Dmitri Shostakovich é um dos meus
compositores favoritos. Posso ouvi-lo por horas a fio sem reclamos. Existe um
quê de tensão, de melancolia e pessimismo desolado em suas obras, algo que
verdadeiramente me atrai. Em suas sinfonias, a força, a ironia burlesca e
desconfiança surgem como insinuações críticas que podem ser percebidas em
camadas mais fundas. Shostakovich viveu em um momento político muito sensível
do século XX. O poder onipresente do estado soviético era um entrave à sua
liberdade criativa e ele não pôde ignorar, sensível como era, essa força
esmagadora.
Acredito que a carga emocional
mais profunda acerca de suas impressões pode ser sentida em sua obra
camerística. Elas espreitam o escuro, a face lívida da desesperança; são
afirmações incontestáveis de como o compositor enxergava a vida e a história. O
Trio Nº 1, por exemplo, é uma obra de juventude. Foi escrito em 1923, quando o
compositor tinha apenas 17 anos de idade. Assim como a Sinfonia Nº 1, é um
trabalho acadêmico. Foi dedicado a Tatyana Glivenko, seu primeiro grande amor. A
obra impressiona pelo frescor melódico e pelo virtuosismo pianístico, revelando
já um traço que marcaria sua carreira: a ironia embutida em passagens de
aparente leveza.
O Trio Nº 2 é do ano de 1944,
escrito nos momentos cruciais e devastadores da Segunda Guerra Mundial. Foi
escrito em homenagem ao amigo Ivan Sollertinsky, crítico e defensor apaixonado
da sua obra. O célebre movimento final — uma dança macabra com ecos de música
judaica — tornou-se símbolo do lamento coletivo diante do Holocausto. A
alternância entre lirismo devastador e sarcasmo feroz traduz não apenas a dor
pessoal do compositor, mas também um comentário social cifrado sobre os
horrores do tempo.
E a terceira obra do disco são os
impressionantes 7 versos de Aleksandr Blok, Op. 127, escrito em 1967. Com
soprano, violino, violoncelo e piano, a obra mergulha no universo simbolista do
poeta russo Aleksandr Blok. A escrita é intimista, quase ascética, marcada por
uma economia de meios que confere ainda mais força à sua atmosfera de mistério
e resignação. É uma obra desolada, escrita em um momento de maturidade do
compositor. Parece ser a reflexão de uma vida.
Não deixe de ouvir. Uma boa apreciação!
Dmitri Shostakovich (1906-1975) -
01 - Piano Trio No. 1 in C Minor, Op. 8
02 - Piano Trio No. 2 in E Minor, Op. 67_ I. Andante - Moderato
03 - Piano Trio No. 2 in E Minor, Op. 67_ II. Allegro con brio
04 - Piano Trio No. 2 in E Minor, Op. 67_ III. Largo
05 - Piano Trio No. 2 in E Minor, Op. 67_ IV. Allegretto
06 - 7 Verses, Op. 127_ No. 1, Song of Ophelia
07 - 7 Verses, Op. 127_ No. 2, Gamayun, the Bird of Prophecy
08 - 7 Verses, Op. 127_ No. 3, We Were Together
09 - 7 Verses, Op. 127_ No. 4, Gloom Enwraps the Sleeping City
10 - 7 Verses, Op. 127_ No. 5, The Storm
11 - 7 Verses, Op. 127_ No. 6, Secret Signs
12 - 7 Verses, Op. 127_ No. 7, Music
Münchner Klaviertrio
Alla Ablaberdyeva, soprano
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