Debussy foi um sujeito que inseriu mudanças fenomenais na música do século XX. O francês mudou a forma de como se percebe a música, de como se deve apreciá-la. Sua música ganha atmosferas mais sugestivas do que declarativas e estruturais. Neste disco, encontramos algumas das extraordinárias peças que escreveu; boas para iniciar uma incursão pelas suas produções impressionistas.
A primeira delas são os deliciosos “Nocturnes”, escritos no ano de 1899. Debussy colore o céu, o mar e noite com pinceladas sonoras, repletas de texturas fascinantes. Não são “noturnos” no sentido chopiniano, intimistas ao piano, mas paisagens sonoras que sugerem nuvens, festas e sereias. Debussy troca a lógica do discurso musical pelo fascínio da cor.
Outra obra fascinante é a luxuriosa “Prélude à l’après-midi d’un faune”, escrita no ano de 1894. Inspirada em um poema de Mallarmé, a obra é revolucionária sob vários aspectos. Ela praticamente sugere para onde iria a música do século XX. A flauta que inaugura a obra não anuncia uma narrativa, mas um estado de suspensão — como se o ouvinte fosse convidado a entrar em um sonho etéreo.
Curiosa é a “Marche écossaise sur un thème populaire”, uma obra menos citada, mas reveladora. Partindo de um tema folclórico escocês, Debussy joga com exotismo e ironia. É como se dissesse: “Posso dialogar com tradições distantes sem me curvar ao academicismo”. A peça mostra seu gosto pela liberdade e pela reinvenção.
“Images”, escrita entre 1905 e 1912, é uma obra em que se percebe a consolidação da busca por uma pintura sonora. Ao orquestrar reflexos, danças e impressões, Debussy sugere que a música pode ser um espelho fragmentado da realidade — como uma tela impressionista que não descreve, mas deixa cintilar.
E, por fim, a última obra do disco é “Jeux”, de 1913. Foi encomendada por Diaghilev. É uma obra ousada e parece antecipar a linguagem de Stravinsky. “Jeux” em francês significa “jogos”, “brincadeiras”, “divertimentos”. O enredo — um jogo noturno de tênis, trivial e moderno — contrasta com a complexidade da partitura. Debussy mostra que a arte podia dialogar com a vida contemporânea sem perder profundidade.
Curiosamente, essas gravações realizadas por Désiré-Emile Inghelbrecht, são dos anos 50. A qualidade é espetacular. O maestro era multitarefas – escritor, regente, produtor. Foi amigo de Debussy. Morreu em 1965; este ano, faz 60 anos de sua partida.
Claude Debussy (1862-1918) -
01. Nocturnes, CD 98, L. 91: No. 1, Nuages (6:24)
02. Nocturnes, CD 98, L. 91: No. 2, Fêtes (6:57)
03. Nocturnes, CD 98, L. 91: No. 3, Sirènes (10:07)
04. Prélude à l'après-midi d'un faune, CD 87a, L. 86 (9:46)
05. Marche écossaise sur un thème populaire, CD 83b, L. 77 (6:52)
06. Images, CD 118a, L. 122: Pt. 2 "Iberia": I. Par les rues et par les chemins (7:16)
07. Images, CD 118a, L. 122: Pt. 2 "Iberia": II. Les parfums de la nuit (8:40)
08. Images, CD 118a, L. 122: Pt. 2 "Iberia": III. Le matin d'un jour de fête (4:20)
09. Images, CD 118a, L. 122: Pt. 1 "Gigues" (7:46)
10. Images, CD 118a, L. 122: Pt. 3 "Rondes de printemps" (8:40)
11. Jeux, CD 133a, L. 126 (19:23)
Orchestre National de La Radiodiffusion Française
Désiré-Emile Inghelbrecht, regente
Você pode comprar este disco na Amazon
*Para acessar o link, por favor, clicar na imagem.
*Se possível, deixe um comentário. Sua participação é importante. Ela ajuda a manter o nosso blog!
Nenhum comentário:
Postar um comentário