A música de Pēteris Vasks ganha outra dimensão quando a gente lembra da história turbulenta — social e política — da Letônia, seu país natal. Suas obras mudam de clima o tempo todo: às vezes surgem momentos de uma beleza arrebatadora, que logo dão lugar a sons fragmentados e cheios de drama. Para Vasks, as três peças para violino e orquestra apresentadas aqui refletem essa dualidade entre a esperança otimista por um futuro melhor e a preocupação com o mundo de hoje. Estão incluídas a fantasia Vox Amoris, o concerto Tāla gaisma (Distant Light), sua primeira e mais extensa obra para violino e orquestra de cordas, e o poema sinfônico Vientuļais eņģelis (Lonely Angel). Todas ganham vida nas mãos da excepcional violinista Alina Pogostkina, acompanhada com maestria pela Sinfonietta Riga sob a regência de Juha Kangas.
Descobrir a música de um compositor pela primeira vez através de uma intérprete igualmente nova para os ouvidos é sempre uma experiência marcante. Foi exatamente isso que aconteceu comigo num concerto da Filarmônica de Los Angeles, regido por Gustavo Dudamel, quando ouvi o Tāla gaisma (Distant Light). Naquela noite, Alina Pogostkina — jovem, linda e absurdamente talentosa — foi a solista. Difícil imaginar uma experiência musical mais perfeita.
A música de Vasks é tão bem construída que soa natural, quase improvisada. Entre suas influências mais fortes estão Arvo Pärt, Giya Kancheli e Henryk Górecki. Assim como eles, ele consegue criar aquela sensação de silêncio luminoso, que parece vir tanto das profundezas da Terra quanto das distâncias inalcançáveis do universo. Mas também compõe passagens tecnicamente desafiadoras, cheias de glissandos e efeitos que testam não só o solista, mas também toda a orquestra de cordas.
Segundo Vasks, o tema de Vox Amoris é a força mais poderosa do mundo: o amor. Ele mesmo disse: "Espero que essa peça toque o coração do ouvinte e torne o mundo um pouco mais aberto e acolhedor para o amor." O violino, como “a voz do amor”, leva o público por uma jornada que vai do florescer delicado até a paixão mais intensa. Já o concerto Tāla gaisma (Distant Light), sua primeira e maior obra para violino e orquestra de cordas, é formado por uma sequência de episódios contrastantes, com toques da música folclórica da Letônia. Não há pausas, apenas três cadências extraordinárias para o violino — difíceis de tocar e arrebatadoras de ouvir.
No terceiro trabalho desse conjunto, Vientuļais eņģelis (Lonely Angel), Vasks tinha uma imagem muito clara na cabeça: “Eu vi um anjo voando sobre o mundo. O anjo olhava para a condição da humanidade com tristeza, mas o leve e quase imperceptível bater de suas asas trazia conforto e cura. Essa peça é a minha música depois da dor.”
Não deixe de ouvir. Uma boa apreciação!
Pēteris Vasks (1946 - ) -
01. Vox Amoris (23:47)
Fantasia per violino ed archi (2008/09)
02. Tālā gaisma - Distant Light (32:03)
- Concerto for violin and string orchestra (1996/97)
03. Vientuļais eņģelis - Lonely Angel (12:50)
- Meditation for violin and string orchestra (1999/2006)
Sinfonieta Riga
Juha Kangas, regente
Alina Pogostkina, violino
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