As sinfonias de Beethoven figuram hoje entre as obras mais consagradas pelo público de concertos. Entretanto, a maioria dos ouvintes contemporâneos do compositor reagiu com assombro e incompreensão às suas inovações — as primeiras críticas julgaram-nas intermináveis e fatigantes! De fato, essas sinfonias, concebidas em grandes dimensões, exigiam do público uma concentração sem precedentes. As nove sinfonias só se impuseram no repertório a partir de meados do século XIX, até ocuparem definitivamente um espaço ímpar no cânone da música sinfônica. Elas iluminaram as realizações anteriores de Haydn e Mozart como limites da perfeição clássica e, transcendendo corajosamente tais modelos, criaram nova referência musical, com novos padrões formais e inusitado poder emocional.
De maneira geral, Beethoven não alterou substancialmente a forma básica do gênero; apenas a Sexta Sinfonia (com seus títulos descritivos) e a Nona (com elementos de uma verdadeira cantata) diferem significativamente do modelo de Haydn. Planejadas para o grande público, as sinfonias não eram obras tão adequadas à experimentação formal quanto os gêneros mais intimistas das sonatas para piano e dos quartetos de cordas, em que o compositor exercitou mais largamente sua liberdade em todos os parâmetros da composição. Quanto ao formato da orquestra, por exemplo, ele manteve o estabelecido pelas últimas sinfonias de Haydn. Excepcionalmente, Beethoven usa trombones, como nas Sinfonias números 5, 6 e 7; na Eroica, acrescentou uma trompa; no final da Quinta emprega o flautim e o contrafagote; na Nona, eleva para quatro o número de trompas e amplia a percussão com o uso da então chamada música turca – triângulo, pratos e bumbo, somados aos dois tímpanos habituais. O pensamento orquestral de Beethoven excedeu os recursos dos instrumentos da época e sofreu desvantagens, por exemplo, no emprego das trompas e dos trompetes. Ao contrário, seu uso do fagote e dos tímpanos mostrou-se particularmente original. O tratamento beethoveniano dos sopros, considerado excessivo à época, causou espanto – alguns críticos o condenavam pela inclusão de uma banda no domínio orquestral.
A grande novidade orquestral de Beethoven, sobretudo a partir da Terceira Sinfonia, constitui-se no uso de maciços blocos sonoros, realizados através da separação dos timbres. Movimentando-os, o compositor manipula com precisão seus ataques, a densidade, a potência, os contrastes entre eles, ciente de sua eficácia sobre os ouvintes.
Foi principalmente na busca da expansão do conteúdo espiritual e emocional de suas obras que Beethoven ampliou a arquitetura formal da sinfonia. A própria natureza de seu pensamento composicional tornou quase inevitável sua excelência no gênero, permitindo-lhe explorar ao máximo as possibilidades expressivas da música puramente instrumental. E é interessante observar que, sob esse aspecto, o talento beethoveniano diferia radicalmente das características da personalidade de seu ídolo Mozart, autor eminentemente teatral e vocal em qualquer gênero que abordasse. O músico de Bonn, em pleno século XVIII, imbuído de um conceito já romântico, empenhou-se em demonstrar que as formas puramente instrumentais seriam capazes de exprimir ideais e sentimentos profundos.
Quanto ao número de movimentos, Beethoven seguiu o modelo das sinfonias londrinas de Haydn (apenas a Pastoral tem cinco movimentos, com os últimos três encadeados sem interrupção). Outra herança haydniana são os prelúdios lentos, que, utilizados anteriormente em sonatas para piano do próprio Beethoven, iniciam as Sinfonias números 1, 2, 4 e 7. A Terceira usa apenas dois acordes introdutórios. As Sinfonias 5 e 6 não têm introdução e a Nona se inicia com dezesseis compassos que preparam nebulosamente a súbita explosão da primeira ideia.
Os primeiros movimentos das sinfonias de Beethoven estão escritos na forma de sonata clássica (com exceção da Nona, que apresenta um discurso em que a exposição dos temas e o desenvolvimento se apresentam em conjunto). Nesses primeiros movimentos, o pensamento instrumental do compositor interfere principalmente na articulação das duas ideias constituintes da forma. Haydn frequentemente os relacionava, derivando o segundo do primeiro. Beethoven, ao contrário, valorizou a diferenciação entre o caráter dos dois temas principais pelo contraste rítmico, instrumental e pela distância das relações tonais entre eles. Explorando o conflito das ideias antagônicas contidas em dois temas opostos, o compositor transforma seus desenvolvimentos em um processo dialético de grande tensão. Os movimentos tornam-se assim necessariamente longos – a Eroica é muito mais longa e mais complexa do que qualquer sinfonia composta antes dela, com o imenso primeiro movimento repleto de material temático e extraordinária amplitude tonal. No final de cada primeiro movimento, a Coda beethoveniana ganha proporções de um segundo desenvolvimento, ressaltando a última aparição do tema vitorioso com insistentes afirmações tonais (a Quinta, por exemplo, apresenta uma série bombástica de redundantes acordes de tônica).
Na sequência das várias seções dos outros andamentos, há uma lógica motriz que continuamente impulsiona a música, construindo a totalidade da obra como expressão completa e única. Essa coerência interna, perceptível em cada uma das sinfonias, desde a Primeira até a Nona, acentua-se ainda mais pela ligação direta entre alguns movimentos (os dois últimos da sinfonia 5 e os três últimos da 6).
Texto completo aqui
Ludwig van Beethoven (1770-1827) -
DISCO 01
01 - I. Adagio molto – Allegro con brio
02 - Symphony No. 1 in C Major, Op. 21_ II. Andante cantabile con moto
03 - III. Menuetto – Trio (Allegro molto e vivace)
04 - Symphony No. 1 in C Major, Op. 21_ IV. Adagio – Allegro molto e vivace
05 - I. Adagio molto – Allegro con brio
06 - II. Larghetto
07 - III. Scherzo (Allegro)
08 - IV. Allegro molto
DISCO 02
01 - I. Allegro con brio
02 - II. Marcia funebre (Adagio assai)
03 - III. Scherzo (Allegro vivace)
04 - IV. Allegro molto
05 - I. Adagio - Allegro vivace
06 - II. Adagio
07 - III. Allegro vivace
08 - IV. Allegro ma non troppo
DISCO 03
01 - I. Allegro con brio
02 - Symphony No. 5 in C Minor, Op. 67_ II. Andante con moto
03 - III. Scherzo. Allegro
04 - Symphony No. 5 in C Minor, Op. 67_ IV. Allegro
05 - I. Awakening of Cheerful Feelings Upon Arrival in the Country. Allegro ma non troppo
06 - II. Scene by the Brook. Andante molto mosso
07 - III. Merry Gathering of Country Folk. Allegro
08 - IV. Thunderstorm. Allegro
09 - V. Shepherd's song. Happy and Thankful Feelings After the Storm. Allegretto
DISCO 04
01 - I. Poco sostenuto - Vivace
02 - II. Allegretto
03 - III. Presto
04 - IV. Allegro con brio
05 - I. Allegro vivace e con brio
06 - II. Allegretto scherzando
07 - III. Tempo di Menuetto
08 - IV. Allegro vivace
DISCO 05
01 - I. Allegro ma non troppo, un poco maestoso
02 - II. Molto vivace
03 - III. Adagio molto e cantabile
04 - IV. Finale
WDR Symphony Orchestra
Marek Janowski, regente
Você pode comprar este disco na Amazon
*Para acessar o link, por favor, clicar na imagem.
*Se possível, deixe um comentário. Sua participação é importante. Ela ajuda a manter o nosso blog!
Nenhum comentário:
Postar um comentário