segunda-feira, 8 de dezembro de 2025

César Franck (1822-1890) - Piano Quintet in F minor e Franz Liszt (1811-1886) - Harmonies poétiques et religieuses e Ave Maria



César Frank foi um compositor privilegiado. Organista de atuação, foi um artista rigoroso e lógico. Suas obras são profundamente expressivas, líricas e procuram transmitir uma coerência formal que impressiona. Algumas de suas obras são extraordinárias como, por exemplo, a bonita Sinfonia em Ré, postada semana passada; e a indizível Sonata para piano e violino, uma das obras mais bonitas e delicadas que eu conheço.

Neste disco, encontramos o seu Quinteto para piano; é uma obra inquietante pelo papel que o piano ocupa. O piano, longe de ser mero participante, age como catalisador, instigando as cordas a uma retórica apaixonada que oscila entre súplica, conflito e epifania. A estrutura cíclica, marca registrada do compositor, confere unidade a um percurso emocional que parece sempre se alimentar de si próprio.  Um trabalho cuja beleza fascina do início ao fim. A obra é do ano de 1879.

Liszt também aparece neste disco. Não o Liszt do virtuosismo, dos contorcionismos técnicos. Absolutamente não. Surge aqui o Liszt dos abismos; das reflexões taciturnas. Liszt procura construir pontes entre o humano e o sagrado. Harmonies poétiques et religieuses, ciclo gestado ao longo da década de 1840 e publicado em versão consolidada em 1853, é talvez o exemplo mais radical de sua inclinação mística. Inspirado no livro homônimo de Alphonse de Lamartine, Liszt transfigura poesia em som: há meditações sombrias, como “Funérailles”, que combinam luto político e desolação pessoal; há peças de recolhimento quase monástico, como “Invocation” e “Bénédiction de Dieu dans la solitude”.

Aparece ainda “Ave Maria”, outra obra que aponta para os caminhos delicados e intimistas de Liszt. O compositor deixa de lado as notas rodopiantes e se recolhe ao intimismo. O virtuosismo não é mais uma ação externa, para o mundo. É como se o compositor dissesse: ‘quero produzir belezas do lado de dentro; quero construir catedrais de tranquilidade sonora aqui, em minha interioridade”.

Não deixe de ouvir este bonito disco. Uma boa apreciação!  

01 - Molto moderato
02 - Lento
03 - Allegro non troppo
04 - Pensées des morts
05 - Andante lagrimoso
06 - Ave Maria

Borodin Quartet
Sviatoslav Richter, piano 

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