A Sinfonia No. 11 de Dmitri Shostakovich é um dos trabalhos sinfônicos que marcaram a minha existência. Talvez, tenha sido uma das obras que eu mais escutei em minha vida ao lado da Sinfonia "Inacabada", de Schubert; e "O Messias", de Handel. Do ponto de vista da história, a obra é repleta de significados. Ela aponta para acontecimentos políticos que marcaram o turbulento século XX, o qual Hobsbawn chamou de a 'era dos extremos'.
Escrita em 1957, a Sinfonia No. 11 é um trabalho programático por seguir um "programa", uma ideia, cuja finalidade é ser revelada em cada movimento, seja um acontecimento da história, um poema, uma paisagem ou um conceito não musical. "As quatro estações" Vivaldi ou bonita "Sinfonia Pastoral", de Vaugham Williams são considerados trabalhos programáticos, por exemplo. Essa peça do compositor russo é também conhecida como "O ano de 1905", pois aponta para os eventos ocorridos em São Petersburgo nesse mesmo ano. Na ocasião, pessoas do povo fizeram uma manifestação, reivindicando dignidade e melhores condições de vida em frente ao Palácio de inverno do czar. De maneira inclemente - a mando do soberano -, os soldados que faziam segurança do Palácio abriram fogo contra os populares. O episódio ficou conhecido como "Domingo Sangrento".
Esse episódio trágico, promovido pela truculência do soberano russo ficou registrado como um evento político que sugeria que aquele estado autoritário precisava ser repensado. É possível dizer que o povo não esqueceu esse gesto impiedoso. Doze anos mais tarde, ocorreria a Revolução Russa. Era uma revanche popular. Shostakovich procura retratar esses eventos dramáticos nesse trabalho sublime.
Pode-se verificar a Sinfonia No. 11 uma força quase cinematográfica. Shostakovich reconstrói quase que visualmente o enfrentamento; o conflito, a resistência e o massacre covarde das forças imperiais. A orquestração é marcial, firme, impulsiva; às vezes, marcada por lances indecisos e por silêncios inquietantes. A cada nova audição que realizo, mais cresce a minha admiração pelo trabalho. Não deixe de ouvir. Uma boa apreciação!
Dmitri Shostakovich (1906-1975) -
Symphony No. 11 in G minor, Op. 103 'The year 1905'
01. I. Adagio (The Palace Square)
02. II. Allegro (The 9th of January)
03. III. Adagio (Eternal Memory)
04. IV. Allegro non troppo (Tocsin)
BBC Philharmonic
John Storgårds, regente
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