segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Gabriel Fauré (1845-1924) - Missa de Réquiem em D menor, Op. 48

Por hoje ser um feriado com conotações necessariamente religiosas, estive pensando no real significado das implicações da data - Dia de Finados, Dia dos Mortos... Sem querer adentrar em querelas judiciosamente religiosas, resta-me analisar apenas o fato histórico. Por que um dia dos mortos para ser comemorado em pleno século XXI? Nesta data, 2 de novembro, as pessoas rumam para os cemitérios. Levam flores, velas, badulaques e outros apetrechos necessários para enfeitar os jazigos e tornar, quiça, a estadia dos mortos mais confortável. Perdoem-me a indiscrição. Mas o Dia de Finados faz parte de uma tradição antiga, revitalizada, sacralizada, legitimada pela Igreja. Quando a Igreja tornou-se a religião oficial do Estado Romano, herdou também muitas das celebrações ditas "pagãs". Tal iniciativa foi utilizada para tornar a nova religião em algo mais aceitável para os novos crentes. Junto veio o feriado do dia dos mortos. O culto ao mortos é uma das mais antigas práticas da humanidade. O homem para lidar com morte, viu-se forçado a criar símbolos que servissem de explicação para muitas das questões suscitadas pelo fato do fim da existência. Ao ler as palavras de Fustel de Coulanges em A Cidade Antiga, a minha desconfiança se acentuou: "[Os antigos] ao deixarem de oferecer aos mortos o repasto fúnebre, deixavam estes seus túmulos; como sombras errantes, ouviam-nos gemer pela calada da noite silenciosa. Censuravam os vivos por sua negligência ímpia; peocuravam puni-los enviando-lhes doenças ou castigavam-nos com esterilidade da terra. Enfim, não davam descanso aos vivos até o dia em que se restabelecessem os repastos fúnebres. O sacríficio, a oferenda de alimentos faziam-nos voltar ao túmulo e proporcionavam-lhes o repouso e os atributos divinos. O homem estava então em paz com os seus mortos". A morte foi o fenômeno mais forte e misterioso, colocando o homem no caminho de outros mistérios. Fez com que elevasse o seu pensamento do vísivel para o invísivel, do passageiro ao eterno, do humano ao divino. Todavia, deixando de lado estas análises, volto-me para a postagem, que é, sem sombras de dúvidas, maravilhosa. A missa de réquiem é um tipo de celebração católica de entrega da alma dos mortos no céu. A Missa de Réquiem em D menor, Op. 48 de Gabriel Fauré é uma das mais belas que já foram compostos para o gênero. Possui uma beleza incomum. Fiquei pensando qual Réquiem eu postaria - Cherubini, Berlioz, Dvorak, Mozart, Schnittke, Marcelo, Britten, Cimarosa, Verdi, Lygeti, Hindemith entre outros. Acabei optando por Fauré. O Réquiem do compositor francês faz jus ao significado de uma verdadeiro réquiem - requiem aeternam dona eis - "dai-lhes o repouso eterno". É o triunfo da beleza, da chegada ao paraíso. Boa apreciação!

P.S. Fato curioso: quem quiser se sentir embriagado por um celeuma de impressões e atordoamentos, não deixe de assistir ao filme São Jerônimo do brasileiro Júlio Bressane. O diretor ao tratar da vida do anacoreta dos desertos, do beato das asceses mortificadoras, Jerônimo, em uma das cenas do filme colocou um dos fragmentos do Réquiem de Fauré - o Sanctus. Quando vi àquilo sentir um misto de sentimentos tão densos que percebi que o meu estômago embrulhava. Em alguns instantes eu me senti um santo plenamente beatificado, a tocar nas asas de seres angélicos.

Gabriel Fauré (1845-1924) - Missa de Réquiem em D menor, Op. 48

01. Introit et Kyrie
02. Offertoire
03. Sanctus
04. Pie Jesu
05. Agnus Dei
06. Libera me
07. In Paradisum

La Chapelle Royale
Les Petits Chanteurs de Saint-Louis
Ensemble Musique Oblique
Agnès Mellon, soprano
Peter Kooy, barítono
Philippe Herreweghe, regente

BAIXAR AQUI

Por Carlos Antônio M. Albuquerque
Have Joy!

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7 comentários:

Unknown disse...

Não tem link disponível no "Baixar Aqui".

Carlinus disse...

Ainda estou enviando o arquivo, Gaspar!

Saudações musicais!

Rodrigo disse...

Olá,
conheci este blog por acaso e gostei do excelente material disponibilizado.
É sempre bom encontrar blogs como este e o PQP Bach, os quais disseminam a verdadeira música num mundo obscurecido pelos ignóbeis modismos.
Sem querer ser chato mas já sendo: há dois links na integral das sinfonias de Shostakovich - por sinal os dois foram disponibilizados pelo mediafire - que não funcionam; são os links das sinfonias nº 2 e 4. Ficaria imensamente grato se vc retificasse os mesmos.
Obrigado pela atenção,
Rodrigo

Carlinus disse...

Rodrigo, que bom que tem sido positivo para você as visitas que têm sido feitas ao SER DA MÚSICA. Comecei este blogger, justamente, porque desejava disseminar/divulgar a boa música. Não ganho nada com isso. Apenas a satisfação de conhecer pessoas e tornar conhecida a música clássica. Com relação, aos links eu darei uma conferida. Vou "consertar" os links quebrados. Não sabia que eles estavam assim. Gostaria inclusive de deixar aqui uma solicitação: se algum dos visitantes encontrar algum link quebrado, por favor, avise-me para que eu conserte.

Saudações musicais a todos!

Jamila disse...

Muitissimo obrigada por postar esse Requiem!!!
Adorei seu blog e os comentarios das obras!

Carlinus disse...

Jamila, obrigado pela sua visita e comentário! Que bom que tenha gostado do blogger. Fique à vontade para participar, sugerir e dar a sua opinião.

Um grande abraço!

Juliano DE ARAUJO CASSIANO disse...

Olá, parabéns pelo maravilhoso site. Você poderia por favor repostar o link do Réquien do Fauré... Obrigado