Em 1986, Miles Davis já tinha mais de 40 anos de atividade como trompetista de jazz, algo praticamente impensável. Isso era perceptível em seus solos mais espaçosos e com menos notas. Entretanto, ele seguia como um dos músicos mais inventivos de que se tinha notícia por nunca deixar-se cair na zona de conforto que grande parte dos músicos de sua idade caíam.
Foi neste contexto que veio Tutu, provando que ele ainda
tinha muito a mostrar mesmo depois dos tempos difíceis entre o final dos
anos 70 e início dos 80. Agora, esta grandiosa obra completa 25 anos e,
para tanto, nada melhor do que uma edição de luxo honrosa. Além das 8
faixas que integram o álbum original, esta nova versão da Warner Jazz
traz um CD bônus registrado em sua apresentação no Nice Jazz Festival,
que ocorreu na França naquele mesmo ano de 86.
Vale lembrar que, nessa fase pós-anos 80, Miles Davis estava tentando
criar uma ligação com a música pop daquele período. Aqui, percebe-se
uma aproximação muito forte com a música de Prince e uma conexão com o
funk, tornando o som mais dançante. Toda essa ambientação veio das
técnicas aprendidas pelo baixista Marcus Miller a dar um novo tratamento
nas gravações: não era mais preciso tocar horas de jam session para
extrair takes; bastava trabalhar com samplers e utilizar os novos
sintetizadores que estavam em voga para dar aquele tom elétrico-dançante
que fazia parte da música de Miles.
Mesmo com sua extensa obra, o trompetista não achava que tinha o
reconhecimento pela comunidade negra. Não só pela capa absolutamente
afro, em Tutu Miles Davis quis fazer com que todos dançassem ao
som de sua música. O que brotava de inventividade não eram mais suas
notas complexas e difíceis, mas uma espécie de abordagem futurista à
música pop. Em “Full Nelson”, o músico homenageia Nelson Mandella com
uma marcha que branda a luta pelos direitos. O próprio nome do disco foi
uma menção ao arcebispo Desmond Tutu, da África do Sul, o primeiro
pontíficie negro.
Nesta edição de luxo, podemos vislumbrar toda a sutileza dada a
“Human Nature”, uma das principais baladas de Michael Jackson. Outra
canção pop que mereceu uma versão sua foi “Time After Time”, de Cindy
Lauper. Talvez de toda a discografia de Miles Davis, Tutu é o
disco em que ele mais conseguiu se aproximar do pop, sem tentativas
comprometedoras que deglutissem sua obra. Ele fez porque quis. E também
porque Marcus Miller tornou isso possível.
Daqui
Miles Davis (1926-1991) - Tutu (1986)
DISCO 01
Tutu Remastered Album
01. Tutu
02. Tomaas
03. Portia
04. Splatch
05. Backyard Ritual
06. Perfect Way
07. Don’t Lose Your Mind
08. Full Nelson
DISCO 02
Live At Nice Fest 1968
01. Opening Medley
02. New Blues
03. Maze
04. Human Nature
05. Portia
06. Splatch
07. Time After Time
08. Carnival
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5 comentários:
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Ola Carlinus, there is a wrong link at Jazz - Miles Davis (1926-1991) - Turnip (1986). It points to TuTu Miles too. Please have a look.
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