É curioso que retornemos a algum lugar em que já estivemos. É curioso que repitamos o mesmo ritual. É curioso que nos entusiasmemos com a mesma música. É curioso que sejamos emulados por uma estética que beira o trágico. É curioso que bebamos cada gota que brota dessa apoteose musical, dessa transfiguração sonora. É curioso que insistamos com a mesma temática. É curioso que a música brote de nossos lábios, grácil, benfazeja, mas repleta de signficações e ressonâncias. Hoje, enquanto trabalhava (em plena aula!), assoviei baixinho o primeiro movimento da Quinta de Mahler. Ensaiei um movimento como quem estava regendo. Os meus alunos adolescentes nada entenderam. Disseram: "O professor tá doido!". Olhei para cada um deles e ri cheio de complacência. Se eles tiverem a oportunidade de saber o que é Mahler - e, em específico, a Quinta Sinfonia, a vida de cada um deles se encherá de supernovas, de blumas revoltas de mil megatons de energias trágicas, mas com o potencial de redenção, de transfiguração. Mahler é o próprio questionamento da vida. Gosto dele assim! Enquanto Bruckner é o homem da espiritualidade alta, repetitiva, que nos sufoca e que fala sempre das montanhas, Mahler nos conduz pelas planícies da dúvida e da dor. Como Virgílio conduziu Dante pelo Inferno, Purgatório e Céu em A Divina Comédia, Mahler nos leva ao inferno da vida e nos comunica agonicamente que a vida não é só isso. Ela pode, nitzscheneamnte, se tornar numa estrela bailarina. Talvez, essa seja a segunda sinfonia que mais gosto de Mahler. A primeira é a Titã, a número 1. Mas como fala essa Quinta! Essa versão com Gatti é convincente. É boa. Percebi-a mais lenta, mas os timbres da orquestra são bem cristalinos. Gatti explora determinadas sonoridades que eu não havia percebido em outras gravações. Vale a pena ouvir. Não deixe de fazê-lo. Boa apreciação!
Gustav Mahler (1860-1911) - Symphony No. 5 in C sharp minor
01.Trauermarsch, in gemessenem Schritt, streng wie ein Kondukt Listen
02. Stürmisch bewegt, mit grösster Vehemenz Listen
03. Scherzo, kräftig, nicht zu schnell Listen
04. Adagietto, sehr langsam Listen
05. Rondo-Finale, allegro giocoso
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Royal Philhamonic Orchestra
Daniele Gatti. regente
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3 comentários:
Carlinus,
Você escreveu nos posts anteriores que a sinfonia 8 de Schubert despertou o seu gosto pela música clássica. Já no meu caso, foi sinfonia 5 de Mahler. Assisti ano passado a OSUSP executando esta sinfonia na Sala São Paulo. Desde então descobri o prazer de ouvir música erudita.
Abraco
Rafael
Carlinus,
A primeira sinfonia de Mahler que ouvi, foi a 1ª Titã, no extinto programa Concertos Internacionais, me arrebatou a primeira audição; hoje Mahler é um dos meus compositores preferidos.
Parabéns pelo texto, excelente.
Abraço
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