quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Johann Sebastian Bach (1685-1750) - Missa in B minor, BWV 232

Aproveitando o ensejo da data, resolvi fazer uma postagem profundamente "santificante" - o BWV 232 do "grande pai". Esta semana tive a oportunidade de conversar com um professor, colega de trabalho, sobre a informação veiculada pela mídia acerca dos 7 bilhões de humanos que agora habitam a terra. Falamos sobre Malthus e ele me explicou sobre as deficiências da teoria do inglês. Mas não deixamos comentar sobre o estágio avançado de agonia da civilização ocidental, gestora de um modo de vida que nos leva inevitavelmente para o buraco. A sociedade capitalista com toda a sua parafernália tecnológica possui uma finalidade - nos conduzir ao prazer. Mas à medida em que somos conduzidos ao prazer, recai sobre nós a maldição do niilismo. A terra já não é um lugar que promove espantos contemplativos. O que regala os olhos do homem do nosso tempo são as superfícies vítreas. Nelas o indivíduo do nosso tempo encontra a redenção narcísica de que tanto a sua alma vazia precisa. O capitalismo e o estilo de vida acabou criando aquilo que os especialistas vão chamar de "não-lugar". Ou seja, não há um lugar que promove encantos, novidade, fascinação, pois que há são as mesmas lojas, as mesmas lanchonetes, as mesmas marcas, as mesmas fragrâncias, como se as nossas percepções tivessem sido uniformizadas. O meu colega contou uma experiência curiosa. Disse ele que uma amiga fora fazer um cruzeiro marítimo, mas ficou decepcionada. Ela queria novidades. Todavia, no navio em que estava, as lojas, os pubs, os cafés, eram os mesmos que ela estava acostumada a frequentar em terra firme. Ou seja, ela teve mais do mesmo, pois não existe um lugar de novidade. Existe um "não lugar" que está em toda parte. É por isso que o homem do nosso tempo viaja tanto. Ele está atrás de novidades. Ele quer encontrar um regalo para a sua fome insaciável. Perdemos o encantamento pela "nossa casa", pela mãe sábia, a natureza. Mas o que tudo isso tem a ver com a missa de Bach? Muita coisa. É que o meu colega disse a certa a altura de nossa conversa que a única forma de brecar o calapso de nossa civilização está na formação de valores sadios, num processo a qual poderíamos dizer que se dá de dentro para fora. E para ele, um dos resposáveis para que isso ocorra é a religião. Não deixei de pensar na afirmação dele. Possuo uma visão crítica em relação a religião. Afinal, a religião é tão antiga quanto a própria humanidade. Se a religião fosse capaz de redimir, ela já teria redimido, transformado o nosso mundo num local de paz. Pois o que não falta é religião. Gostaria de mudar a afirmação do meu colega e dizer que o que pode salvar o homem é a metafísica, a espiritualidade que se encontra na beleza. E para se chegar à capacidade de apreciação e percepção dessa beleza é preciso educar os sentidos. É preciso direcionar os olhos para aquilo que nos torna maiores do que somos, deixando de lado os anseios vis da materialidade, que promete felicidade, mas não é capaz de gerar beleza, de fazer brotar um jardim no coração. Lembro aqui as palavras de Cristo: "O que adianta o homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?" Ou seja, a capacidade de ser humano, de sensibizar-se com a natureza, com a simplicidade dos elementos silenciosos que foram gerados pelo silêncio do universo. Olhando do ponto de vista da objetividade, penso não haver chances para o homem. Em pouco mais de cem anos, as condições para a vida na terra tornar-se-ão insustentáveis. Para reverter isso é preciso de espiritualidade, da metafísica, que habita a obra de arte, os sonhos, a inocência, os silêncios gravitacionais das palavras, do rio que corre e não se cansa, nas amizades, na música, em Bach... Afinal, a natureza é um instrumento tocado pelo universo onde estão adormecidas as mais belas canções. Enquanto escuto essa extraordinária missa de Bach, vou pensando nisso tudo - e fico estarrecido e beatificado no dia dos mortos. Uma boa pareciação!

Johann Sebastian Bach (1685-1750) - Missa in B minor, BWV 232

DISCO 01

01 - Kyrie eleison, Chorus
02 - Christe eleison, Duet sopranos
03 - Kyrie eleison, Chorus
04 - Gloria in excelsis Deo, Chorus
05 - Et in terra pax, Chorus
06 - Laudamus te, Aria soprano II
07 - Gratias agimus tibi, Chorus
08 - Domine Deus, Duet Soprano I, tenor
09 - Qui tollis peccata mundi, Chorus
10 - Qui sedes ad dexteram Patris, Aria contra-alto
11 - Quoniam tu solus Sanctus, Aria bass
12 - Cum sancto spiritu, Chorus

DISCO 02

01 - Credo in unum Deum, Chorus
02 - Patrem omnipotentem, Chorus
03 - Et in unum Dominum, Duet soprano I, contra-alto
04 - Et incarnatus est, Chorus
05 - Crucifixus, Chorus
06 - Et resurrexit, Chorus
07 - Et in Spiritum Sanctum, Aria bass
08 - Confiteor unum baptisma, Chorus
09 - Et expecto resurrectionem, Chorus
10 - Sanctus, Chorus
11 - Osanna, Chorus
12 - Benedictus, Aria tenor
13 - Osanna, Chorus
14 - Agnus Dei, Aria contra-alto
15 - Dona nobis pacem, Chorus

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Tokyo Opera Singers

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5 comentários:

marcelo lasta disse...

super Ozawa dirige Bach y que solistas,otro acierto en su blog,ademas los ultimos cd de Shostakovich:fantasticos,la sinfonia 8 y el pianoconcerto 1,muy buenas lecturas,continue asi amigo de las musas insondables..

Anônimo disse...

Caro blogueiro musical, se o capitalismo é visto como desagregador, pior ainda é o socialismo e comunismo onde as liberdades individuais são massacradas e a liberdade religiosa extirpada em favor de um Estado glutão e Leviatã.
Como disse Winston Churchill: "O capitalismo é o pior regime, à exceção de todos os outros"

E já que o tema é o da obra do cristão e protestante Bach:

Eis em quem está a salvação da humanidade:

"E em nenhum outro há salvação, porque também debaixo do céu nenhum outro nome há, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos". Atos 4.12

"Porque não me envergonho do evangelho de Cristo, pois é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê; primeiro do judeu, e também do grego".
Romanos 1.16

"Portanto, tudo sofro por amor dos escolhidos, para que também eles alcancem a salvação que está em Cristo Jesus com glória eterna".
II Timóteo 2.10

Que o Senhor lhe abençoe e obrigado por suas publicações.

Amém!

Al Reiffer disse...

Parabéns, Carlinus, pelo excelente texto. Concordo contigo em quase tudo. Inclusive, o que disseste possui alguma relação com meu poema "Final de Sinfonia", publicado em meu blog. Abraços

Carlinus disse...

Reiffer, obrigado pelas palavras. Qual é o endereço do teu blog? Adoro blogs - principalmente quando percebo uma tônica literário-subjetiva em grande escala.

Abraços!

Pedro disse...

Caro Carlinus,
o link do CD2 dessa extraordinária gravação (por cuja postagem lhe agradeço) está vencido. Será possível fazer o upload dele? Uma vez mais obrigado!