terça-feira, 4 de agosto de 2009

Jean-Philippe Rameau (1683-1764) - Trabalhos para cravo

Estou numa pasmaceira danada hoje à noite. Ouço um francês exigente - Jean-Phillipe Rameau - e isso atenua um pouco minha indisposição. O compositor já apareceu por aqui outras vezes. Mas devo afirmar que as peças que ouço para cravo neste instante são de um primor impressionante. Seguem os dados do moço: "Jean-Philippe Rameau nasceu em Dijon (França), em 25 de setembro de 1683. Seu pai, organista de Notre-Dame de Dijon, foi, talvez, o seu primeiro professor, mas não se sabe quase nada acerca da infância e adolescência de Jean-Philippe. No colégio de Jesuítas onde estudou humanidades, foi, suficientemente mau aluno para o que o deixassem seguir a carreira musical. Seu pai enviou-o para Itália para aperfeiçoar a sua formação, mas não se interessou pela música italiana e voltou muito rapidamente para a França com uma companhia de comediantes de que foi violinista. Tornou-se organista em Avignon (1702) e depois em Clermont-Ferrand. Em 1705, fixou-se em Paris, onde arranjou alguns empregos menores como organista. Mas não conseguiu obter uma colocação interessante, apesar da publicação (1706) do seu Primeiro livro de peças para cravo. Regressou a Dijon, onde sucedeu a seu pai como organista de Notre-Dame (1708-1714). Entre 1715 e 1722 foi novamente organista em Clermont-Ferrand, dedicando melhor de si próprio a trabalhos teóricos, à margem dos quais considera a composição uma atividade complementar. Quando voltou a Paris, em 1722, com quase 40 anos, era praticamente desconhecido e não escreveu quase nada. A publicação do seu Tratado de harmonia (1722) e do seu Segundo livro de peças para cravo (1724) atraiu as atenções sobre ele e fez que, pouco a pouco, o melhor professor de música da capital. Mas a sua fama permanecia apenas como teórico e pedagogo. Em c.1730 , conheceu o financeiro La Poupliniere que o nomeou diretor da sua música particular e o apresentou a Voltaire (que lhe daria 4 libretos) e fez com que as portas da ópera se abrissem para a sua Hippolyte et Aricie (1733). Fiéis à ópera de Lully, os músicos conservadores ergueram-se contra as ousadias harmônicas, a importância da orquestra e os "italianismos" que descobriram na obra de Rameau. Mas o veredicto do público foi favorável e foi confirmado triunfalmente nos anos seguintes, viriam nascer as maiores obras-primas: Les indes galantes (1735), Castor et Pollux (1737) e Dardanus (1739). Em 1745, Rameau, que era um pouco cortesão, foi nomeado compositor do rei e A princesa de Navarro (em colaboração com Voltaire) foi representada com grande pompa, em Versalles, no casamento do delfim. A glória do músico atingiu o cume: teria sido suficiente para derrotar os partidários de Lully se a luta entre os lullistas e ramistas tivesse sido mais do que uma invenção dos musicógrafos. Todavia, em 1752, ano em que apareceram as suas Nouvelles réflexions, a Querelle des Bouffons precipitou-o, contra a vontade, na arena. Serviu de alvo aos partidários da música italiana, cujos porta-vozes são Grimm e Rousseau, apoiados pelos enciclopedistas (ele, que fora acusado de italianismo, alguns anos antes). Se Rousseau e Grimm fossem verdadeiros músicos, teriam apercebido daquilo que a obra de Rameau continha de lirismo, de gênio melódico, de esplendor instrumental, dignos da Itália (apesar da sua insistência teórica na supremacia da harmonia). Teriam visto também que La serva padrona não é nem a obra-prima de Pergolesi, nem a obra-prima representativa do gênio italiano suscetível de se opor a Castor et Pollux ou a Dardanus e que, ainda por cima, Rameau era mais qualificado que eles para defender a música admirável que se fazia na Itália. Esta questiúncula, que nascera em espíritos com insuficiente cultura musical, não perturbou a serenidade de Rameau, esse grande sábio da música (que era muito semelhante mesmo fisicamente, ao seu amigo Voltaire). Com uma perfeita honestidade intelectual e uma argumentação sólida, atacou a retórica especiosa de Rousseau, mostrando como eram gratuitas as suas informações e grosseiros os seus sofismas. Mas teve a infelicidade de denunciar as inexatidões ou as simplicidades da Enciclopédia no capítulo da música, o que teve como efeito reforçar a animosidade dos seus adversários. Estes, foram em grande parte, responsáveis pelo fato de, 15 anos depois da sua morte, nenhuma das suas obras figurar já no repertório, apesar dos êxitos confirmados pela multiplicidade de representações até 1755. Rameau faleceu em Paris, devido a uma febre tifóide complicada pelo escoburto, em 12 de setembro de 1764, aos 81 anos. Teórico eminente e um dos maiores músicos franceses, amigo de Voltaire, protegido por um poderoso representante da nova burguesia, era bem o homem novo, que os progressistas de então tiveram a loucura de não reconhecer. As suas óperas (especialmente as suas obras-primas criadas entre 1733 e 1745) representam, no campo musical, um renascimento da ópera clássica francesa, apesar dos temas e encenações convencionais que ligam às "pompas de Versalles". Aí, notam-se, especialmente, algumas aquisições italianas (ária da capo, grandes melodias do bel canto, importância da orquestra): arte muito mais audaciosa do que a de Lully, tanto do ponto de vista melódico como harmônico. As peças descritivas, especialmente notáveis, têm origem numa arte totalmente nova (o tremor de terra das Indes galantes, por exemplo). A música religiosa, pelo contrário, adotou, de forma bastante convencional, o grande estilo italiano: parece que, ao contrário dos seus antecessores, Rameau considerou a composição para igreja uma obrigação fastidiosa. A música instrumental é muito interessante, especialmente as Peças para cravo em concerto (cravo, um violino ou flauta, e uma viola ou segundo violino). Pela primeira vez numa obra deste gênero, um cravo não é nem um contínuo, nem um instrumento polifônico, com em J.S.Bach, mas um solista virtuose (nisso, estas peças anunciam Haydn e Mozart). A forma francesa da suíte de danças foi abandonada em proveito de uma forma aparentada com o concerto italiano em 3 movimentos. É preciso salientar entre as inovações de Rameau – na hamonia, utilização sistemática de acordes dissonantes por sobreposições de terceiras e de acordes com sextas, quartas ou sétimas aumentadas – na instrumentação, introdução de clarinetas na orquestra (Zoroastro, 1749), utilização na orquestra de cordas duplas e dos pizzicatos – na forma, a importância dada à abertura nas óperas (prenuncia a abertura programática dos românticos). A sua obra teórica baseia-se na observação do fenômeno natural da ressonância dos corpos sonoros. Comungando da utopia dos enciclopedistas, segundo a qual tudo que está ligado á natureza é bom, encontra aí (segundo Euler e os pitagórios) a justificação da consonância e o fundamento da sua teoria da "geração harmônica". As teorias pecam por vários postulados contestáveis (em especial, a equivalência das oitavas), mas têm o mérito novo de se fundamentarem em bases científicas e já não metafísicas. No plano pedagógico, ainda somos devedores do seu gênio: a sua teoria das inversões simplificou prodigiosamente o ensino da harmonia, submersa, até então, numa confusão incrível. Foi também um dos mais resolutos defensores do tratamento igual". Nota-se após estas palavras a importância do compositor francês. Como são boas essas peças para cravo. Não deixe de ouvir. Boa apreciação!

O texto foi extraído DAQUI

Jean-Philippe Rameau (1683-1764) - Trabalhos para cravo

CD 1

01 - Premier livre 1706 - Prélude
02 - Premier livre 1706 - Allemande
03 - Premier livre 1706 - 2e Allemande
04 - Premier livre 1706 - Courante
05 - Premier livre 1706 - Gigue
06 - Premier livre 1706 - 1re & 2e Sarabandes
07 - Premier livre 1706 - Vénitienne
08 - Premier livre 1706 - Gavotte
09 - Premier livre 1706 - Menuet
10 - Pieces de clavecin (1724) - Allemande
11 - Pieces de clavecin - Courante
12 - Pieces de clavecin - Gigue en rondeau
13 - Pieces de clavecin - 2me gigue en rondeau
14 - Pieces de clavecin - Le rappel des oiseuax
15 - Pieces de clavecin - 1er & 2me Rigaudons
16 - Pieces de clavecin - Musette en rondeau
17 - Pieces de clavecin - Tambourin
18 - Pieces de clavecin - La Villageoise
19 - Pieces de clavecin - Les Tendres Plaintes
20 - Pieces de clavecin - Les niais de Sologne
21 - Pieces de clavecin - Les soupirs
22 - Pieces de clavecin - La Joyeuse
23 - Pieces de clavecin - La Follette
24 - Pieces de clavecin - L'Entretien des Muses
25 - Pieces de clavecin - Les Tourbillons
26 - Pieces de clavecin - Les Cyclopes

CD 2

01 - Pieces de clavecin - Le Lardon
02 - Pieces de clavecin - La Boiteuse
03 - Nouvelles Suites (1729) - Allemande
04 - Nouvelles Suites - Courante
05 - Nouvelles Suites - Sarabande
06 - Nouvelles Suites - Les Trois Mains
07 - Nouvelles Suites - Fanfarinette
08 - Nouvelles Suites - La Triomphante
09 - Nouvelles Suites - Gavotte et six doubles
10 - Nouvelles Suites - LesTricotets
11 - Nouvelles Suites - L'Indifférence
12 - Nouvelles Suites - Menuet I & II
13 - Nouvelles Suites - La Poule
14 - Nouvelles Suites - Le Triolet
15 - Nouvelles Suites - Les Sauvages
16 - Nouvelles Suites - L'Enharmonique
17 - Nouvelles Suites - L'Egyptienne
18 - Pieces de clavecin en concert (1741) - La Livri
19 - Pieces de clavecin en concert - L'Agaçante
20 - Pieces de clavecin en concert - La Timide (rondeau 1 & 2)
21 - Pieces de clavecin en concert - L'Indiscrète
22 - La Dauphine (1747)

Catherine Latzarus, cravo

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Por Carlos Antônio M. Albuquerque
Have Joy!

2 comentários:

Anônimo disse...

Oi Será que dá para fazer um reup dos links de Jean-Philippe Rameau (1683-1764) - Trabalhos para cravo, de Catherine Latzarus. Obrigado.

Anônimo disse...

Olá, link off. Arruma aí pra nós. Obrigado