Babi Yar
Tenho medo.
Tenho hoje tantos anos
quanto o próprio povo judeu.
Parece que agora sou um judeu.
Perambulo no Egito antigo.
E eis-me na cruz, morrendo.
E ainda trago em mim a marca dos pregos.
Parece que Dreyfus sou eu.
Os filisteus são os que me denunciam e são o meu juiz.
Estou atrás das grades.
Estou cercado,
perseguido, cuspido, caluniado.
E as mocinhas, com suas rendas de Bruxelas,
rindo, me enfiam a sombrinha na cara.
(…)
Eu, chutado por uma bota, sem forças,
em vão peço piedade aos pogromistas.
(…)
Que a Internacional ressoe
quando enterrarem para sempre
o último anti-semita da terra.
Não há sangue judeu no meu sangue,
mas sou odiado com todas as forças
por todos os anti-semitas, como se judeu fosse.
E é por isso que sou um verdadeiro russo.
Humor
Czares, reis, imperadores
soberanos do mundo inteiro,
comandaram as paradas
mas ao humor não puderam controlar.
Ó euzinho aqui!
De repente me desembaraço de meu casaco,
faço um gesto com a mão e “Tchau!”.
Na loja
Dar-lhes o troco errado é uma vergonha,
enganá-las no troco é um pecado.
(…)
E, enquanto enfio no bolso as minhas massas,
olho, solene e pensativo,
cansadas de carregar seus sacos de compras,
as suas nobres mãos.
Elas nos honram e nos julgam,
nada está fora do alcance de suas forças.
Medos
Lembro do tempo em que ele era todo-poderoso,
na corte da mentira triunfante.
O medo se esgueirava por toda parte, como uma sombra,
infriltava-se em cada andar.
Agora é estranho lembrarmo-nos disso,
o medo secreto que alguém nos delate,
o medo secreto de que venham bater à nossa porta.
E depois, o medo de falar com um estrangeiro…
com um estrangeiro? até mesmo com sua mulher!
E o medo inexplicável de, depois de uma marcha,
ficar sozinho com o silêncio.
Não tínhamos medo de construir em meio à tormenta,
nem de marchar para o combate sob o bombardeio,
mas tínhamos às vezes um medo mortal,
de falar, nem que fosse com nós mesmos.
Uma Carreira
Os padres diziam que Galileu era mau e doido.
Que Galileu era doido.
Mas, como o tempo o demonstrou,
o doido era o mais sábio.
Um cientista da época de Galileu,
não era menos sábio que Galileu.
Ele sabia que a Terra girava,
mas tinha uma família
e, ao subir com sua mulher na carruagem,
achava que tinha feito sua carreira,
quando, na realidade, a tinha destruído.
Galileu correu riscos.
É isso — eu penso — que é uma carreira.
Por isso, viva sua carreira,
quando é uma carreira como
a de Shakespeare e Pasteur,
Newton e Tolstói.
Liev?
Liev!
Por que eles foram caluniados?
Talento é talento,
digam o que disserem.
Os que insultaram estão esquecidos,
mas nós lembramos dos que foram insultados.
Não deixe de ouvir esta obra poderosa, este monumento da arte do século XX. Somente um audacioso compositor como Shostakovich poderia compor algo assim. Boa apreciação!
Dmitri Shostakovich (1906 - 1975) Sinfonia No. 13 in B flat minor, Op. 113 - "Babi Yar"
1. Babi Yar (Adagio)
2. Yumor - Humour (Allegretto)
3. V Magazine - In the Store (Adagio)
4. Strachi - Fears (Largo)
5. Kariera - A Career (Allegretto)
National Symphony Orchestra
Mstilav Rostropovich
Nicola Ghiuselev, bass
BAIXAR AQUI
Por Carlos Antônio M. Albuquerque
Have Joy!
2 comentários:
Essa sinfonia é simplesmente maravilhosa sempre foi a minha preferida das do Shosta ! Não sei se te interessa mas tenho uma versão dela regida pelo próprio Kirill Kondrashin ! Está em vinil e eu estou providenciando a conversão para MP3.
Ricardo, com certeza que me interesso. Pode enviar o link. Será interessante tê-la aqui a fim de que possamos fazer as devidas comparações!
Saudações musicais!
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