Surge mais uma das sinfonias de Shostakovich com o inominável Mstilav Rostropovich. E agora: a toda poderosa Sinfonia número 11. Ao meu modo de ver, este monumento, este empreedimento épico e trágico, é a grande obra de Shostakovich. Nela encontramos os elementos de uma obra poderosa, típica dos grandes gênios. É uma das obras programáticas mais fabulosas que já foram escritas. Ela possui fúria, densidade, tons marciais, embate trágico, violência e promessa de redenção. Shostakovich compôs esta sinfonia em 1957 quando já era uma celebridade internacional. A peça foi escrita em homenagem às vítimas do Domingo Sangrento. Esse episódio se deu no dia 22 janeiro (9 de janeiro no calendário russo) de 1905, em São Petersburgo, Rússia. Naquela ocasião, manifestantes pacíficos marcharam para apresentar uma petição ao czar Nicolau II no Palácio de Inverno e foram alvejados pela Guarda Imperial de forma covarde. O padre George Gapon era o líder da marcha. Gapon fora o responsável pela redação que seria apresentada ao czar. "A petição, escrita por Gapon deixava claros os problemas e opiniões dos trabalhadores, e pedia por melhores condições de trabalho, salários justos, redução da jornada de trabalho para oito horas e condenava as horas extras que os donos das fábricas forçavam os trabalhadores a cumprir. Outras demandas incluíam o fim da Guerra Russo-japonesa e a introdução do sufrágio universal. Tropas foram dispostas ao redor do Palácio de Inverno e em outros lugares. O czar deixou a cidade no dia 8 de janeiro e foi para Czarkoe Selo. No domingo, 22 de janeiro de 1905, Gapon iniciou a sua marcha sob um vento gelado e rajadas de neve. Nos bairros operários formaram-se cortejos que convergiram para o centro da cidade. Deixando as armas fechadas em casa, os manifestantes caminharam pacificamente através das ruas. Alguns transportavam cruzes, ícones e estandartes religiosos, outros bandeiras nacionais e retratos do czar. Enquanto caminhavam cantavam hinos religiosos e o Hino Imperial Deus Salve o Czar. Os diversos cortejos deviam chegar ao Palácio de Inverno às duas da tarde. Não havia qualquer confrontação com as tropas. Através da cidade, nas pontes e avenidas estratégicas, os manifestantes encontraram o caminho bloqueado em linhas de infantaria, reforçada por cossacos e hussardos; e os soldados abriram fogo contra a multidão. O número oficial de vítimas foi 92 mortos e várias centenas de feridos. Gapon desapareceu e outros chefes da marcha foram apanhados. Apesar do czar não estar presente no Palácio de Inverno neste dia, ele levou a culpa pelas mortes, o que fez surgir ressentimentos em sua direção e na de seu governo autocrata". Este evento ficou marcado para sempre na memória do povo russo. Shostakovich fez a sua homenagem à classe trabalhadora e às vítimas inocentes que tombaram ao chão naquele dia, fustigados pelas armas dos soldados do czar. Eu já havia postado esta sinfonia sob a versão de Pletnev. Não deixe de ouvir e sentir os poderes atordoadores desta fabulosa, extraordinária, necessária sinfonia de Shostakovich. Boa audição!
Dmitri Shostakovich (1906-1975 ) - Sinfonia No. 11 em G manor, Op. 103 - "O Ano de 1905"
01 The Palace Square
02 The Ninth of January
03 In Memoriam
04 The Tocsin
National Symphony Orchestra
Mstilav Rostropovich, regente
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Por Carlos Antônio M. Albuquerque
Have Joy!
3 comentários:
Com um comentário desses, não há como abster-me de baixar o arquivo.
Gratíssimo
Aproveite!
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