domingo, 17 de agosto de 2025

Richard Wagner (1813-1883) - Götterdämmerung

A última parte do Anel de Bayreuth de 1956, regido por Knappertsbusch, deixa uma forte impressão. Uma característica marcante dessa produção é a disposição dos cantores em assumir vários papéis. No trio das Nornas, por exemplo, Jean Madeira, que interpreta a Primeira Norna, já havia cantado Erda e Rossweiße; Maria von Ilosvay, a Segunda, havia sido Flosshilde e Schwertleite. A Terceira Norna é ninguém menos que Astrid Varnay, como se não bastasse o enorme desafio de cantar Brünnhilde. As três formam um conjunto poderoso, embora suas vozes estejam registradas muito em primeiro plano em relação à orquestra, o que acaba obscurecendo a primeira aparição do motivo da imolação.

Na cena seguinte, com Siegfried e Brünnhilde, Windgassen e Varnay já são presenças conhecidas, embora se perceba que estavam economizando forças para os trechos mais exigentes que viriam. A viagem de Siegfried até o Reno é bem conduzida, mas o glockenspiel no clímax mal se ouve. Isso é apenas um detalhe, mas mais preocupante é o clarinete baixo, que possui solos importantes e que aqui quase não se escuta – provavelmente por causa da disposição da fossa orquestral em Bayreuth, com madeiras e metais recuados e longe dos microfones, que estavam voltados principalmente para as vozes.

Na primeira cena dos Gibichungos, surge Hermann Uhde como Gunther. Ele ainda não havia aparecido no ciclo e oferece um Gunther seguro e convincente, sobretudo na forma como transmite sua decadência moral no segundo ato. Josef Greindl, que fora Hunding em Die Walküre, aparece aqui como Hagen – um retrato muito mais sombrio e ameaçador, que o cantor claramente desfruta. Já Gré Brouwenstijn impressiona como Gutrune. Antes, havia sido Freia em Das Rheingold e Sieglinde em Die Walküre, e também aqui se destaca: sua Gutrune não é apenas uma vítima passiva dos planos dos homens, mas uma cúmplice ativa, chegando a oferecer pessoalmente a poção envenenada a Siegfried. Windgassen transmite bem a camaradagem ingênua de Siegfried com os Gibichungos, e o juramento de fraternidade de sangue – com Hagen abstendo-se – tem grande impacto. Em seguida, a vigília de Hagen traz algumas das passagens mais sombrias de toda a obra.

A cena retorna à rocha de Brünnhilde, onde ela encontra Waltraute – novamente Jean Madeira, que não cantara esse papel em Die Walküre. Seus apelos angustiados para que Brünnhilde devolva o anel às Filhas do Reno são recebidos com indiferença: depois do que passou, como esperar que Brünnhilde se preocupe com o destino dos deuses? Waltraute parte inconsolável, e entra em cena o disfarçado Siegfried. Na gravação de Solti, os engenheiros mudaram artificialmente a voz de Windgassen para lhe dar um timbre mais baritonal; aqui isso não ocorre, mas o tenor soa suficientemente áspero, enquanto Varnay transmite bem a angústia e o medo de Brünnhilde.

O segundo ato abre com a última aparição de Alberich, novamente interpretado pelo inconfundível Gustav Neidlinger, em diálogo com Hagen. Depois, Siegfried retorna em sua própria forma, relatando como conseguiu subjugar Brünnhilde. A atmosfera escurece quando Hagen convoca os vassalos para um casamento duplo: Gunther com Brünnhilde, Siegfried com Gutrune. Apesar de as trompas alpinas serem substituídas por trombones – como de costume –, a cena funciona muito bem, mantendo a tensão até o juramento, em que Windgassen mostra todo o seu vigor e Varnay também se impõe. As pequenas imprecisões rítmicas de Windgassen passam despercebidas diante da intensidade. No trio da vingança que se segue, Gunther revela toda a sua fraqueza moral: basta Hagen insinuar a possibilidade de obter o anel para que ele aceite participar do assassinato de Siegfried – como se Hagen tivesse realmente a intenção de ceder o anel a alguém.

O terceiro ato começa com a encantadora cena das Filhas do Reno, que lamentam a perda do anel com melodias sedutoras e depois tentam conquistá-lo de volta seduzindo Siegfried. As intérpretes são as mesmas de Rheingold, mas entre um título e outro, Paula Lenchner (Wellgunde) também cantou Gerhilde, e Maria von Ilosvay (Flosshilde) interpretou Schwertleite e a Segunda Norna. São papéis que exigem vozes mais densas do que as das Filhas do Reno, mas elas fazem bem a transição. Lore Wissmann (Woglinde), por sua vez, não acumulou outros papéis. As três quase conseguem convencer Siegfried, mas quando associam a devolução do anel à sua própria segurança, ele desiste. Depois, reencontra o grupo de caça, saudando-o com um dó agudo luminoso, como previsto na partitura. O relato de sua vida e a bebida que desfaz o efeito da poção o fazem recordar Brünnhilde, o que leva ao seu assassinato. Sua despedida final, após ser esfaqueado – em um toque bastante operístico –, é emocionantemente interpretada por Windgassen. A marcha fúnebre, então, soa grandiosa.

De volta aos Gibichungos, Brouwenstijn retrata muito bem as esperanças, temores e angústias de Gutrune. Já Varnay parece menos à vontade nessa cena – talvez guardando forças para a ária da imolação, na qual realmente se impõe com autoridade. Ainda assim, para quem cresceu ouvindo Nilsson na gravação de Solti, é difícil achar Varnay igualmente imponente: às vezes desliza nas notas ou não as atinge com absoluta precisão. Mas isso é ser excessivamente crítico: dentro de qualquer padrão razoável, sua performance é forte. A cena final é bem conduzida, com o tema da redenção pelo amor se elevando sobre a música das Filhas do Reno, ainda que o tema de Valhalla nos metais não alcance a grandiosidade necessária.

No fim das contas, nenhuma execução de uma obra tão monumental pode ser perfeita em todos os aspectos, mas esta tem muitas qualidades. O elenco é de primeira linha – provavelmente mais forte do que se conseguiria reunir hoje em dia. A orquestra soa magnífica, e Knappertsbusch domina a partitura com autoridade, sem nunca parecer equivocado no andamento. A gravação privilegia as vozes, e o equilíbrio orquestral nem sempre é o ideal; mas, ao contrário da gravação de Solti, esta é ao vivo, no teatro, sem retoques de estúdio. A remasterização da Pristine Audio em Ambient Stereo XR é muito bem-sucedida: mal se nota que se trata de um registro mono, com ótima presença nos agudos. Minhas reservas são mínimas diante do que se alcança aqui e ao longo de todo o ciclo. Mesmo wagnerianos acostumados a Solti ou a registros mais recentes deveriam conhecer esta gravação.

Daqui  

Richard Wagner (1813-1883) - 

DISCO 01


01. VORSPIEL EINLEITUNG - Welch Licht leuchtet dort
02. Treue beratner Vertraege Runen
03. Es ragt die Burg, von Riesen gebaut
04. ORCHESTERZWISCHENSPIEL
05. Zu neuen Taten, teurer Helde
06. Wilsst du mir Minne schenken
07. SIEGFRIEDS RHEINFAHRT
08. Akt 1. Nun hoer, Hagen, sage mir, Held
09. Was weckst du Zweifel und Zwist!
10. Jagt er auf Taten wonnig umher
11. Heil! Heil Siegfried, teuer Held!

DISCO 02

01. Deinem Bruder bot ich mich zum Mann
02. Bluehenden Lebens labendes Blut
03. Hier sitz` ich zur Wacht, wahre den Hof
04. ORSHESTERZWISCHENSPIEL
05. Altgewohntes Geraeusch raunt meinem Ohr die Ferne
06. Hoere mit Sinn, was ich sage!
07. Da sann ich nach
08. Blitzend Gewoelk, vom Wind getragen
09. Bruennhild`! Ein Freier kam

DISCO 03


01. Akt 2 - VORSPIEL
02. Schlaefst du, mein Sohn
03. Hoiho, Hagen! Mueder Mann!
04. Hoiho! Hoihohoho! Ihr Gibichsmannen, machet euch auf!
05. Heil dir, Gunther!
06. Einen Ring sah ich an deiner Hand
07. Heil`ge Goetter, himmlische Lenker!
08. Helle Wehr! Heilige Waffe!
09. Welches Unholds List liegt hier verhohlen
10. Auf, Gunther, edler Gibichung
11. Akt 3 - VORSPIEL
12. Frau Sonne sendet lichte Strahlen

DISCO 04

01. Siegfried! - Was schlitst du so in den Grund
02. Was leid` ich doch das karge Lob
03. Siegfried! Siegfried! Wir weisen dich wahr
04. Hoiho!.. Finden wir endlich, wohin du flogest
05. Mime hiess ein muerridvher Zwerg
06. Bruennhilde, heilige Braut!
07. TRAUERMUSIK
08. War das sein Horn
09. Schweigt eures Jammers jauchzenden Schwall
10. Starke Scheite schichtet mir dort
11. Mein Erbe nun nehm` ich zu eigen
12. Fliegt heim, ihr Raben!

Chorus and Orchestra of the Bayreuther Festspiele
Hans Knappertsbusch, regente
Brünnhilde – Astrid Varnay (soprano)
Siegfried – Wolfgang Windgassen (tenor)
Hagen – Josef Greindl (bass)
Alberich – Gustav Neidlinger (bass-baritone) 

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