A música de Bruckner não se confunde com qualquer outra. O compositor austríaco foi contemporâneo de Brahms, de Tchaikovsky e de Dvořák, «herdeiro» de Beethoven e de Wagner, percursor de Mahler… mas, acima de tudo, foi uma figura singular. No que respeita à sua produção sinfónica, uma das características mais paradoxais é o modo como combina a imponência sonora e formal com uma escrita minuciosa. Esta dualidade compromete a sua apreensão imediata. Convida-nos a abandonar o conforto de expectativas satisfeitas e a vaguear por territórios desconhecidos. Por vezes, parece interromper o fluxo discursivo, criando uma sensação de estranheza sobre aquilo que vem de seguida. Tudo se expande sem limites, ao ponto de transformar a própria noção do tempo. Neste sentido, é curioso pensar que, apesar de ter a consciência de que a vida se aproximava do fim, Bruckner não demonstrava ter pressa, como se tivesse todo o tempo do mundo. Desde que em agosto de 1887 começou a pensar na Sinfonia N.º 9, e ao longo dos nove anos que ainda lhe restaram, deixou-se tomar por uma procrastinação que só permitiu completar três dos quatro andamentos. Interrompeu inúmeras vezes o projeto para fazer revisões profundas de sinfonias anteriores – designadamente a 1.ª, a 3.ª e a 8.ª – e também compôs obras avulsas, tais como o Salmo 150 ou a cantata Helgoland. O 3.º andamento terá sido concluído em novembro de 1894. Ainda assim, encontrava-se a rever essas mesmas páginas do manuscrito a 11 de outubro de 1896, dia em que morreu. Do Finale, só nos chegaram esboços que não permitem uma reconstituição convincente, apesar dos esforços já empreendidos por muitos musicólogos.
Existem, portanto, inúmeras maneiras de encarar esta sinfonia, desde a condição de obra inacabada até à mais sublime epifania. Como exemplo, destaca-se nesta sinfonia a tonalidade de Ré Menor. É difícil acreditar na coincidência de também a Sinfonia N.º 9 de Beethoven, o Requiem de Mozart e a Arte da Fuga de Bach – todas obras derradeiras – se apresentarem na mesma tonalidade. A evocação de Beethoven é certamente a mais evidente, pelo modo como Bruckner se propôs reinventar o alcance do formato sinfonia, pelo semelhança do Scherzo – heróico, violento –, pelo uso desmedido dos sopros metais. Esperar-se-ia do último andamento uma «mensagem de esperança», tal como na Sinfonia Coral.
Texto completo aqui
Anton Bruckner (1824-1896) -
01. Symphony No. 9 in D Minor, WAB 109 (Original Version)- I. Feierlich, misterioso
02. Symphony No. 9 in D Minor, WAB 109 (Original Version)- II. Scherzo. Bewegt, lebhaft; Trio. Schnell
03. Symphony No. 9 in D Minor, WAB 109 (Original Version)- III. Adagio- Langsam, feierlich
Tonhalle-Orchester Zürich
Paavo Järvi, regente
Você pode comprar este disco na Amazon
*Para acessar o link, por favor, clicar na imagem.
*Se possível, deixe um comentário. Sua participação é importante. Ela ajuda a manter o nosso blog!

Nenhum comentário:
Postar um comentário