sábado, 26 de julho de 2025

Sir Edward Elgar (1857-1934) - Variations on an Original Theme, Op. 36, ‘Enigma Variations' r Gustav Holst (1874-1934) - The Planets, suite for large orchestra, Op. 32

Tradução do encarte:

"É impressionante que dois dos verdadeiros clássicos da música orquestral inglesa tenham sido compostos no curto espaço de cerca de quinze anos, por volta da virada do século anterior. As Variações Enigma de Edward Elgar encantaram e fascinaram os ouvintes desde a primeira apresentação em 1899. Em 14 variações notavelmente diversas, Elgar demonstra sua maestria composicional ao criar retratos em miniatura de seus amigos mais próximos, bem como de sua esposa e de si mesmo. Por vezes suaves, idílicas, tempestuosas e barulhentas, as peças – que muitas vezes se integram perfeitamente – compõem, no entanto, um todo coerente, como um retrato de grupo tirado durante um fim de semana no campo. Quanto ao enigma do título, Elgar – que adorava quebra-cabeças – sustentou que outra melodia "combinava" com o tema, e os musicólogos têm buscado a resposta desde então, sem sucesso. 

Em 1916, Gustav Holst completou outro conjunto de esboços de personagens musicais – sua suíte Os Planetas, em sete movimentos. Estas têm pouco a ver com astronomia e menos ainda com as divindades romanas cujos nomes carregam. Holst foi bastante inspirado pela astrologia e a suíte, na verdade, trata do caráter humano influenciado pelos planetas. O conceito – como o das variações de Elgar – prevê uma variedade de estados de espírito e expressões, e em sua partitura Holst aproveitou ao máximo essas possibilidades. Para alcançar isso, ele fez uso de uma grande orquestra, incluindo muita percussão, duas harpas, celesta, órgão, dois conjuntos de tímpanos. Ele também incluiu partes para certos instrumentos incomuns, como flauta baixo, oboé baixo e tuba tenor, e – no movimento final – um coro feminino. Executando o programa na acústica acolhedora do Grieg Hall de Bergen, a Orquestra Filarmônica de Bergen, sob a regência de Andrew Litton, dá tudo de si neste espetáculo sonoro". 

Não deixe de ouvir. Uma boa apreciação! 

Sir Edward Elgar (1857-1934) - 

Variations on an Original Theme, Op. 36, ‘Enigma Variations'

01 Theme. Enigma: Andante
02 I. (C. A. E.) L’istesso tempo
03 II. (H. D. S-P.) Allegro
04 III. (R. B. T.) Allegretto
05 IV. (W. M. B.) Allegro di molto
06 V. (R. P. A.) Moderato
07 VI. (Ysobel) Andantino
08 VII. (Troyte) Presto
09 VIII. (W. N.) Allegretto
10 IX. (Nimrod) Adagio
11 X. (Dorabella) Intermezzo: Allegretto
12 XI. (G. R. S.) Allegro di molto
13 XII. (B. G. N.) Andante
14 XIII. (* * *) Romanza: Moderato
15 XIV. (E. D. U.) Finale: Allegro

Gustav Holst (1874-1934) - 

The Planets, suite for large orchestra, Op. 32

16 I. Mars, the Bringer of War
17 II. Venus, the Bringer of Peace
18 III. Mercury, the Winged Messenger
19 IV. Jupiter, the Bringer of Jollity
20 V. Saturn, the bringer of Old Age
21 VI. Uranus, the Magician
22 VII. Neptune, the Mystic

Bergen Philharmonic Orchestra
Bergen Philharmonic Choir 

Andrew Litton, regente 

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sexta-feira, 25 de julho de 2025

Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791) - String Quartet No. 14 in G Major, K. 387, Divertimento in F Major, K. 138 e String Quartet No. 15 in D minor, K. 421

Mozart escreveu 23 quartetos de cordas, um número verdadeiramente assombroso. Tudo em Mozart é superlativo. Os mais famosos são os chamados "Quartetos Haydn". Neste delicioso disco, encontramos dois dos quartetos escritos pelo compositor. O seu K. 138 foi escrito quando o compositor tinha apenas 16 anos de idade. A obra revela uma sofisticação impressionante. A obra é quase uma miniatura sinfônica. 

Já os dois quartetos encontrados aqui são verdadeiramente obras-primas. O primeiro deles é o de No. 14, também conhecido como "Primavera". A obra foi escrita em 1782. Possui uma beleza contagiante. O equilíbrio entre os instrumentos é notável. Já o de No. 15 é um mergulho no outono da alma. A obra é carregada pelo drama, pela emoção. Possui uma linguagem que evoca nuvens cinzentas, que prenuncia uma densa chuva. 

Não deixe de ouvir. Uma boa apreciação! 

Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791) - 

String Quartet No. 14 in G Major, K. 387

01. I. Allegro Vivace Assai
02. II. Menuetto
03. III. Andante Cantabile
04. IV. Molto Allegro

Divertimento in F Major, K. 138
05. I. Allegro
06. II. Andante
07. III. Presto

String Quartet No. 15 in D minor, K. 421
08. I. Allegro Moderato
09. II. Andante
10. III. Menuetto and Trio. Allegretto
11. IV. Allegretto ma non Troppo

Quatuor Van Kuijk
Nicolas Van Kuijk, violino I
Sylvain Favre-Bulle, violino II
Emmanuel François, viola
François Robin, violoncelo  

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quinta-feira, 24 de julho de 2025

Mieczyslaw Weinberg (1919-1996) - Suite Polish Tunes, op. 47 e Symphony No. 21 "Kaddish", op. 152

O compositor Mieczyslaw Weinberg tem aparecido por aqui com certa recorrência. Gosto de sua música. Weinberg nasceu na Polônia, mas mudou para a União Soviética ainda jovem. Boa parte de sua produção foi concebida no período em que ele lá esteve. Apesar de ter absorvido o espírito da música soviética, o compositor não deixava de lembrar a sua Polônia natal. Composta em 1950, em plena era stalinista, a Suite Polish Tunes é uma coleção de peças curtas e dançantes baseadas em melodias populares da Polônia natal de Weinberg. Escrita para orquestra de câmara, a suíte revela o lado mais lírico e acessível do compositor. Combinando leveza rítmica, melodias cativantes e orquestração transparente, a obra funciona quase como um tributo codificado às suas raízes, em uma época em que a ligação com o Ocidente e o nacionalismo polonês poderiam ser politicamente perigosos.

Já a "Kaddish", nasceu em 1991; é a sua Sinfonia No. 21, a última que o compositor escreveu.  Foi dedica às "vítimas do gueto de Varsóvia". A obra é uma prece sem palavras. Trata-se de uma oração pelos mortos, que atravessa quase uma hora de música intensa, brutal, sombria, transcendental. O "Kaddish" é uma oração, geralmente recitada em aramaico, que exalta o nome de Deus; e é frequentemente associada ao luto, mas que não menciona o luto ou a morte diretamente. 

Combinando orquestra plena, trechos de solistas, e até gravações e citações musicais, Weinberg constrói uma narrativa de perda e resistência. É como se cada movimento da sinfonia abrisse uma janela para uma memória coletiva que, embora devastada, recusa o esquecimento. Em alguns momentos, o silêncio é tão carregado quanto o som. 

Não deixe de ouvir. Uma boa apreciação! 

Mieczyslaw Weinberg (1919-1996) -

01 - Suite Polish Tunes, op. 47, No. 2 I Adagio - Allegro
02 - Suite Polish Tunes, op. 47, No. 2 II Andantino
03 - Suite Polish Tunes, op. 47, No. 2 III Allegro
04 - Suite Polish Tunes, op. 47, No. 2 IV Allegro moderato
05 - Symphony No. 21 Kaddish, op. 152 I Largo
06 - Symphony No. 21 Kaddish, op. 152 II Allegro molto
07 - Symphony No. 21 Kaddish, op. 152 III Largo
08 - Symphony No. 21 Kaddish, op. 152 IV Presto
09 - Symphony No. 21 Kaddish, op. 152 V Andantino
10 - Symphony No. 21 Kaddish, op. 152 VI Lento

Siberian Symphony Orchestra
Dmitry Vasilyev, regente
Veronika Bartenyeva, soprano 

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Heinrich Schütz (1585-1672) - O bone Jesu, fili Mariae (Concerto sacré) SWV 471 e Dietrich Buxtehude (1637-1707) - Membra Jesu Nostri

Um disco com aquilo que de mais denso e bonito que existe no barroco alemão. São obras que mergulham com profundidade no drama da Paixão de Cristo. Composta provavelmente por volta da década de 1640, O bone Jesu, fili Mariae é um dos chamados Concerti sacri de Heinrich Schütz, figura seminal na música alemã pré-bachiana. A obra é breve, mas intensamente expressiva. Baseada em um texto devocional latino, o concerto é um lamento fervoroso da Virgem Maria diante da morte do filho. Com apenas três vozes (duas sopranos e baixo) e contínuo, Schütz articula tensões emocionais com notável economia de meios, criando uma paisagem sonora que alterna ternura e angústia. É interessante notar que Schütz nasceu cem anos antes de Bach.

A outra obra do disco é de Buxtehude, outro nome poderoso do barroco alemão. Sua famosa obra leva a meditação sobre a Paixão, com um ciclo de sete cantatas que contemplam, uma a uma, as partes do corpo de Cristo crucificado: pés, joelhos, mãos, lado, peito, coração e rosto. Baseado em textos do místico medieval Arnolfo de Lovaina (atribuídos, por muito tempo, erroneamente a São Bernardo de Claraval), a obra é um exemplo raro de misticismo sensual e musicalidade refinada. 

Ambas as obras revelam, em sua essência, o caráter profundamente humano da arte sacra barroca: não se trata apenas de glorificar o divino, mas de representar a dor, a esperança e a fé humanas diante do sofrimento de Cristo. Em O bone Jesu, o lamento de Maria é o da mãe universal. Em Membra Jesu Nostri, o corpo martirizado é quase palpável, o que indica ênfase na natureza humana de Cristo. Não deixe de ouvir. Uma boa apreciação!

01. Heinrich Schütz - O bone Jesu, fili Mariae (Concerto sacré)  SWV 471
02. Dietrich Buxtehude - Membra Jesu Nostri - I. Ad Pedes  (A ses pieds) - [Cycle...
03. Dietrich Buxtehude - Membra Jesu Nostri - II. Ad Genua  (A ses genoux)
04. Dietrich Buxtehude - Membra Jesu Nostri - III. Ad Manus  (A ses mains)
05. Dietrich Buxtehude - Membra Jesu Nostri - IV. Ad Latus  (A son côté)
06. Dietrich Buxtehude - Membra Jesu Nostri - V. Ad Pectus  (A sa poitrine)
07. Dietrich Buxtehude - Membra Jesu Nostri - VI. Ad Cor  (A son coeur)
08. Dietrich Buxtehude - Membra Jesu Nostri - VII. Ad Faciem  (A sa face)

The English Baroque Soloists
The Monteverdi Choir

John Eliot Gardiner, regente 

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quarta-feira, 23 de julho de 2025

Antonín Dvorák (1841-1904) - The Water Goblin in B Minor, Op. 107, The Noon Witch in C Major, Op. 108 e The Golden Spinning Wheel in F Major, Op. 109

Um disco fascinante. Sou um grande admirador dos poemas sinfônicos escritos pelo compositor tcheco, sobretudo "The Golden Spinning Wheel in F Major, Op. 109", que ouvi bastante no período em que deixei minha adolescência. Abaixo, uma pequena afirmação extraída do encarte a respeito do disco e das obras:

"Os poemas sinfônicos de Antonin Dvorák são obras fascinantes porque oferecem uma combinação perfeita de orquestração colorida, arte narrativa vibrante e tradição musical folclórica tcheca profundamente enraizada. A habilidade de Dvorak em pintar quadros musicais e contar histórias de forma comovente é particularmente evidente nas três peças gravadas aqui pela Orquestra Sinfônica de Basileia sob a regência de seu maestro Ivor Bolton".

Não deixe de ouvir. Uma boa apreciação!  

Antonín Dvorák (1841-1904) -

01. The Water Goblin in B Minor, Op. 107
02. The Noon Witch in C Major, Op. 108
03. The Golden Spinning Wheel in F Major, Op. 109

Sinfonieorchester Basel
Sir Ivor Bolton, regente 

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terça-feira, 22 de julho de 2025

Louis Spohr (1784-1859) - Violin Concertos Nos. 1, 14 & 15

No período em que viveu, o compositor alemão Louis Spohr conseguiu um enorme sucesso e respeito. Reconhecido tanto como violinista virtuoso quanto como compositor inovador, Spohr teve enorme reconhecimento em sua época - mas, curiosamente, caiu em relativo esquecimento após sua morte em 1859. Neste disco, encontramos três dos seus concertos para violino e orquestra.

Comentarei em ordem numérica e não na ordem em que aparece no disco. O Concerto No. 1 foi composto no ano de 1803. É uma obra estruturada nos moldes clássicos conforme Haydn e Mozart. Há insinuações virtuosísticas e operísticas, o que indica a atenção do compositor às exigências do público do século XIX por melodias cantáveis.

Já o Décimo Quarto é do ano de 1833, ou seja, trinta anos mais tarde em relação ao Primeiro. Aqui o compositor já se encontra completamente imerso no romantismo. Ele foi escrito para Ferdinand David, o mesmo violinista que estrearia o Concerto de Mendelssohn alguns anos depois, o que diz muito sobre o prestígio de Spohr entre seus pares.

O Décimo Quinto é do ano de 1836. Este talvez seja o mais maduro dos três concertos aqui encontrados. A obra procura equilibrar uma escrita clássica e liberdade romântica com sofisticação. 

Embora, hoje, Spohr não seja um compositor respeitado e ouvido como Beethoven, Mendelssohn ou Brahms, seus concertos revelam ideias respeitáveis e com bastante originalidade. Não deixe de ouvir. Uma boa apreciação!

Louis Spohr (1784-1859) - 

(01)_Violin_Concerto_No._14,_Op._110
(02)_Violin_Concerto_No._15,_Op._128-_I._Allegro
(03)_Violin_Concerto_No._15,_Op._128-_II._Larghetto
(04)_Violin_Concerto_No._15,_Op._128-_III._Rondo_grazioso
(05)_Violin_Concerto_No._1,_Op._1-_I._Allegro_vivace
(06)_Violin_Concerto_No._1,_Op._1-_II._Siciliano
(07)_Violin_Concerto_No._1,_Op._1-_III._Polonaise

Rundfunk-Sinfonieorchester Berlin
Christian Fröhlich, regente
Ulf Hoelscher, violino 

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Anton Webern (1883–1945) - Im sommerwind e Johannes Brahms (1833–1897) - Symphony No. 2 in D major, Op. 73

Encontramos neste disco duas obras de mundos completamente diversos. A primeira é do austríaco Anton Webern.  "Im sommerwind" é uma obra de juventude. A obra foi escrita em 1904, período anterior à adesão ao dodecafonismo e ao radical caminho que trilhou em sua jornada estética. Trata-se de uma idílica página orquestral, inspirada no poema homônimo de Bruno Wille, que evoca uma natureza idealizada e um estado quase panteísta de fusão entre homem e mundo. A obra era raramente executada até sua redescoberta e estreia póstuma em 1962. É patente as similitudes com a música de Mahler e a música de Strauss, com ondulações melódicas que pairam como brisas suaves em um vasto campo aberto.

Em seguida, encontramos a sempre poderosa e necessária Sinfonia No. 2, de Brahms. Escrita em 1877, talvez seja a Sinfonia mais pastoral de Brahms. Esse fato pode ser apontado pelo fato de Brahms, quando a escreveu, estivesse às margens do idílico lago Wörthersee. Esse aspecto pode ser percebido pela linguagem tépida da Sinfonia. No entanto, como lhe era próprio, inseriu algumas pitadas de melancolia, restando um trânsito entre o lirismo e a desconfiança. Um disco bastante luminoso. Não deixe de ouvir. Uma boa apreciação! 

Anton Webern (1883–1945) - 

01. Im sommerwind (Idyl for large orchestra) (1904)

Johannes Brahms (1833–1897) - 

Symphony No. 2 in D major, Op. 73
02. 1. Allegro non troppo
03. 2. Adagio non troppo - L'istesso tempo, ma grazioso
04. 3. Allegretto grazioso (Quasi andantino) - Presto ma non assai
05. 4. Allegro con spirito

Royal Concertgebouw Orchestra
Riccardo Chailly, regente 

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segunda-feira, 21 de julho de 2025

Bernhard Henrik Crusell (1775-1838) - Clarinet Quartet No.1 in E flat major Op.2, Clarinet Quartet No.2 in C minor e Clarinet Quartet No.3 in D major

Confesso que eu ainda não conhecia o compositor Bernhard Henrik Crusell. Em meio ao panteão dos grandes nomes da música dos séculos XVIII e XIX, o nome de Crusell ficou periferizado. Vale mencionar que o compositor foi contemporâneo de Beethoven, Haydn, Schubert, Mendelssohn, entre outros nomes do classicismo e do romantismo. 

Nascido em 1775 na Finlândia, mas radicado na Suécia durante a maior parte da vida, Crusell foi não apenas compositor, mas também um dos mais virtuosos clarinetistas de sua época. Essa dupla identidade - de intérprete e criador - é perceptível em cada compasso de seus Quartetos para Clarinete e Cordas, compostos entre o final do século XVIII e as primeiras décadas do XIX.

Neste disco, encontramos três dos seus quartetos para clarinete. O Quarteto No. 1 é do ano de 1803 e revela a influência de Mozart. Possui uma elegância clássica e um lirismo que antecipa em muito o romantismo. Já o No. 2 é mais sombrio e evidencia um mergulho do compositor em nuances mais dramáticas e contrastes mais intensos entre o clarinete e o trio de cordas. O No. 3 retoma uma atmosfera mais luminosa, com uma ampla sofisticação harmônica. De muito bom gosto essas obras.

Não deixe de ouvir. Uma boa apreciação! 

Bernhard Henrik Crusell (1775-1838) - 

01 - Clarinet Quartet No.1 in E flat major Op.2 - I. Poco adagio - Allegro
02 - II. Romanza (Cantabile)
03 - III. Menuetto (Allegro) - Trio
04 - IV. Rondo (Allegro vivace)
05 - Clarinet Quartet No.2 in C minor - I. allegro molto agitato
06 - II. Menuetto - Trio
07 - III. Pastorale (Un poco allegretto)
08 - IV. Rondo (Allegreto)
09 - Clarinet Quartet No.3 in D major - I. Allegro non tanto
10 - II. Un poco largo
11 - III. Menuetto (Allegro) - Trio
12 - IV. Finale (Allegro)

The Allegri String Quartet 

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Ludwig van Beethoven (1770-1827) - Overtures

Quando pensamos em Beethoven, frequentemente, vem à mente as poderosas nove sinfonias, os elétricos quartetos de cordas ou as enigmáticas sonatas para piano. No entanto, o compositor alemão escreveu outras poderosas. Entre elas, podemos colocar suas inquietantes AberturasAbertura de Fidelio (ópera), Leonore nº 3, Abertura Coriolano, Egmont ou As Ruínas de Atenas. São obras visionárias e também poderosas.

Destaco, por exemplo, a Abertura Coriolano, inspirada na peça de Heinrich von Collin, que retrata o conflito interno de um herói romano dividido entre orgulho e dever. Aqui, Beethoven transforma esse dilema em música com contrastes violentos entre passagens impetuosas e momentos de lirismo sombrio. Além disso, gosto de Egmont, composta para ilustrar a peça de Goethe. Nela o compositor atinge talvez seu auge dramático: a luta contra a opressão e a vitória do espírito livre ressoam com força quase revolucionária. A obra foi adotada, inclusive, como símbolo de resistência em tempos de guerra.

Essas pequenas galáxias beethoveanas são espaços amostrais de como o compositor conseguia construir narrativas completas. O compositor conseguia, a partir dessa escrita, apresentar um conflito, construir uma tensão e sugerir uma resolução com um controle orquestral absoluto. 

Não deixe de ouvir. Uma boa apreciação! 

Ludwig van Beethoven (1770-1827) - 

01. Fidelio, Op. 72 - Overture
02. Die Geschöpfe des Prometheus (the Creatures of Prometheus), Op. 43, Overture - Die Geschopfe des Prometheus , Op. 43 -  Overture
03. Coriolan Overture, Op. 62
04. Die Ruinen von Athen, Op. 113 - Overture
05. Egmont, Op. 84 - Overture
06. Die Weihe des Hauses, Op. 124
07. Leonore Overture No. 3, Op. 72b

Slovak Philhermonic Orchestra

Stephen Gunzenhauser, regente 

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domingo, 20 de julho de 2025

Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791) - Dom Giovanni, K.527

"O compositor austríaco Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791) é uma figura ímpar na história da ópera. Outros grandes mestres, entre eles Giuseppe Verdi (1813-1901) e Richard Wagner (1813-1883), deixaram sua marca exclusivamente na ópera, mas o gênio de Mozart abarcou todo tipo de música. Todavia, ele sempre teve uma paixão especial e um talento único para a ópera. Na última década de vida, transformou o gênero de tal modo que já não parecia mais o mesmo.

Como nenhum outro compositor até então, Mozart percebeu que, explorando a força emocional do canto, poderia infundir sangue e vida nos heróis da ópera tradicional, seja ela séria ou cômica. Com suas obras-primas operísticas – Le nozze di Figaro (“As bodas de Fígaro”), Don Giovanni, Così fan tutte (“Assim fazem todas”) e Die Zauberflöte (“A flauta mágica”) – ele foi ainda mais longe. Inspirado em libretos instigantes, delineava personagens tridimensionais através de orquestração sutil, recitativos harmonicamente ambiciosos, árias memoráveis e ensembles complexos. Mozart chegou a esse apogeu com apenas 25 anos de idade.

A precocidade de seu talento foi logo reconhecida pelo pai, Leopold, respeitado músico em Salzburgo. Mas foi como intérprete que Mozart primeiro causou espanto. Antes dos 13 anos já tinha escrito óperas em latim, italiano e alemão. Com esta idade foi estudar na Itália e lá estreou maravilhas como Mitridate e Lucio Silla. Ao voltar para sua cidade natal, escreveu novas óperas, mas lá não havia nem um bom teatro, nem uma casa de ópera. Com o tempo, Mozart só pensava em deixar a cidade. Em 1781, graças a uma encomenda de Munique, ele compôs Idomeneo, sua primeira ópera madura para o palco, uma verdadeira obra-prima. A essa altura já dominava o legado musical do passado e estava pronto para gerar um novo futuro. Nesse mesmo ano deixou Salzburgo para sempre para viver em Viena.

A década seguinte o consagraria como o compositor lendário que hoje conhecemos, mas seria conturbada. Casou-se e tinha frequentes problemas financeiros e de saúde. Mozart era muito exigente consigo mesmo, compondo prolificamente e fazendo exaustivas viagens a outras cidades. Sua estreia na ópera em Viena foi um sucesso imediato com Die Entführung aus dem Serail (“O rapto do serralho”), mas a grande virada veio em 1784 quando conheceu o poeta italiano Lorenzo da Ponte (1749-1838). Mozart podia agora não só escolher o tema de suas óperas como se valer da força dramática dos ousados libretos de Da Ponte: Le nozze di Figaro, com seus criados rebeldes, faz menção à luta de classes; Don Giovanni exalta, e acaba punindo, um nobre promíscuo; e Così fan tutte dá a entender que as mulheres podem ser tão volúveis quanto os homens. Mas o que situou essas obras no centro do repertório operístico foi a música de Mozart: bela, arrebatadora, perturbadora e às vezes quase dolorosamente íntima. Sofisticados jogos de tonalidade, metamorfoses de motivo, orquestração fluente e espirituosa mostram como as óperas de Mozart foram enormemente enriquecidas pelo fato de o compositor ser também um gênio da música instrumental".

Texto completo aqui.  

Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791) - Dom Giovanni, K.527

DISCO 01


01. Overture
02. Atto I. № 1. Introduzione Notte e giorno faticar (Leporello, Donna Anna, Don Giovanni, il Commendatore)
03. Recitativo Leporello, ove sei (Don Giovanni, Leporello)
04. Recitativo Ah! del padre in periglio (Donna Anna, Don Ottavio)
05. № 2. Recitativo accompagnato Ma qual mai s'offre, oh Dei (Donna Anna, Don Ottavio)
06. Duetto Fuggi, crudele, fuggi! (Donna Anna, Don Ottavio)
07. Recitativo Orsù, spicciati presto (Don Giovanni, Leporello)
08. № 3. Aria Ah chi mi dice mai (Donna Elvira con Don Giovanni e Leporello)
09. Recitativo Chi è là -- Stelle! che vedo (Donna Elvira, Don Giovanni, Leporello)
10. № 4. Aria Madamina, il catalogo è questo (Leporello)
11. Recitativo In questa forma (Donna Elvira)
12. № 5. Coro Giovinette che fate all'amore (Zerlina, Masetto, Coro di contadine e contadini)
13. Recitativo Manco male è partita (Don Giovanni, Leporello, Zerlina, Masetto)
14. № 6. Aria Ho capito, signor sì (Masetto)
15. Recitativo Alfin siam liberati (Don Giovanni, Zerlina)
16. № 7. Duettino Là ci darem la mano (Don Giovanni, Zerlina)
17. Recitativo Fermati, scellerato! (Donna Elvira, Zerlina, Don Giovanni)
18. № 8. Aria Ah! fuggi il traditor (Donna Elvira)
19. Recitativo Mi par ch'oggi il demonio si diverta (Don Giovanni, Don Ottavio, Donna Anna)
20. № 9. Quartetto Non ti fidar, oh misera (Donna Elvira, Donna Anna, Don Ottavio, Don Giovanni)
21. Recitativo Povera sventurata! (Don Giovanni)
22. № 10. Recitativo accompagnato Don Ottavio, son morta! (Donna Anna, Don Ottavio)
23. Aria Or sai chi l'onore (Donna Anna)
24. Recitativo Come mai creder deggio (Don Ottavio)
25. № 10a. Aria Dalla sua pace (Don Ottavio)
26. Recitativo lo deggio ad ogni patto (Leporello, Don Giovanni)
27. № 11. Aria Fin ch'han dal vino (Don Giovanni)
28. Recitativo Masetto, senti un po'! (Zerlina, Masetto)
29. № 12. Aria Batti, batti, o bel Masetto (Zerlina)

DISCO 02


01. Recitativo Guarda un po' come seppe (Masetto, Don Giovanni, Zerlina)
02. № 13. Finale Presto presto pria ch'ei venga (Masetto, Zerlina)
03. Tra quest abori celata (Zerlina, Don Giovanni, Masetto)
04. Bisogna aver coraggio (Donna Elvira, Don Ottavio, Donna Anna, Leporello, Don Giovanni)
05. Protegga il giusto cielo (Donna Anna, Donna Elvira, Don Ottavio)
06. Risposate, vezzose ragazze (Don Giovanni, Leporello, Masetto, Zerlina, Donna Anna, Donna Elvira, Don Ottav
07. Venite pur avanti (Leporello, Don Giovanni, Donna Elvira, Don Ottavio)
08. Ecco il birbo (Don Giovanni, Leporello, Don Ottavio, Donna Elvira, Donna Anna, Zerlina, Masetto)
09. Trema, trema, o scellerato! (Donna Anna, Donna Elvira, Zerlina, Don Ottavio, Masetto, Don Giovanni, Lepore
10. Atto II. № 14. Duetto Eh, via, buffone, non me seccar (Don Giovanni, Leporello)
11. Recitativo Leporello!...Signore (Don Giovanni, Leporello)
12. № 15. Terzetto Ah taci ingiusto core (Donna Elvira, Leporello, Don Giovanni)
13. Recitativo Amico, che ti par (Don Giovanni, Leporello)
14. Recitativo Eccomi a voi! (Donna Elvira, Don Giovanni, Leporello)
15. № 16. Canzonetta Deh, vieni alla finestra (Don Giovanni)
16. Recitativo V'e gente alla finestra (Don Giovanni)
17. № 17. Aria Meta di voi qua vadano (Masetto, Don Giovanni)
18. Recitativo Zitto! lascia ch'io senta ottimamente (Don Giovanni, Masetto)
19. Recitativo Ahi ahi! la testa mia! (Masetto, Zerlina)
20. № 18. Aria Vedrai, carino (Zerlina)
21. Recitativo Di molte faci il lume (Leporello, Donna Elvira)
22. № 19. Sestetto Sola, sola in buio loco (Donna Elvira, Leporello, Don Ottavio, Donna Anna, Zerlina, Masetto
23. Prague version. Recitativo Dunque quello sei tu (Zerlina, Don Ottavio, Donna Elvira, Masetto)
24. № 20. Aria Ah, pieta, signori miei! (Leporello)
25. Recitativo Ferma, perfido, ferma! (Donna Elvira, Masetto, Zerlina, Don Ottavio)
26. № 21. Aria Il mio tesoro intanto (Don Ottavio)
27. Recitativo Ah, ah, ah questa bona (Don Giovanni, Leporello, Il Commendatore)
28. № 22. Duetto O statua gentilissima (Leporello, Don Giovanni, Il Commendatore)

DISCO 03

01. Vienna version. Recitativo Dunque quello sei tu (Zerlina, Donna Elvira, Don Ottavio, Masetto, Leporello)
02. Recitativo Ferma, perfido, ferma (Donna Elvira, Masetto, Zerlina, Don Ottavio)
03. Recitativo Restate qua! (Zerlina, Leporello)
04. № 21a. Duetto Per queste tue manine (Leporello, Zerlina)
05. Recitativo Amico, per pieta (Leporello)
06. Recitativo Andiam, andiam, signora (Zerlina, Donna Elvira, Masetto)
07. № 21b. Recitativo accompagnato In quali eccessi, o Numi (Donna Elvira)
08. Aria Mi tradi quell'alma ingrata (Donna Elvira)
09. Recitativo Ah, ah, ah, ah questa e buona (Don Giovanni, Leporello, Il Commendatore)
10. № 22. Duetto O statua gentilissima (Leporello, Don Giovanni, Il Commendatore)
11. Recitativo Calmatevi, idol mio! (Don Ottavio, Donna Anna)
12. № 23. Recitativo accompagnato Crudele! Ah no, mio bene (Donna Anna)
13. Rondo Non mi dir, bell'idol mio (Donna Anna)
14. Recitativo Ah, si segua il suo passo (Don Ottavio)
15. № 24. Finale Gia la mensa e preparata (Don Giovanni, Leporello)
16. L'umtima prova dell'amor mio (Donna Elvira, Don Giovanni, Leporello)
17. Che grido e questo mai! (Don Giovanni, Leporello)
18. Don Giovanni, a cenar teco (Il Commendatore, Don Giovanni, Leporello)
19. Da qual tremore insolito (Don Giovanni, Coro, Leporello)
20. Ah! dov'e il perfido (Donna Anna, Donna Elvira, Zerlina, Don Ottavio, Masetto, Leporello)
21. Or che tutti, o mio tesoro (Don Ottavio, Donna Anna, Donna Elvira, Zerlina, Masetto, Leporello)
22. Resti dunque quel birbon (Zerlina, Masetto, Leporello)
23. Questo e il fin (Donna Anna, Donna Elvira, Zerlina, Don Ottavio, Masetto, Leporello)
24. Appendix Overture (Concert version)

Scottish Chamber Orchestra & Chorus
Sir Charles Mackerras, regente 

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Nikolay Myaskovsky (1881-1950) - Links, op 65, Divertissement, op 80 e Alastor, C Min, Poeme d'apres Shelley, op 14 - vol. 16

E eis que, com este disco, chegamos ao final desta magnífica caminhada, excursionando pelos trabalhos sinfônicos e orquestrais de Nikolay Myaskovsky. Não muito conhecido fora da Rússia, o compositor foi certamente, na primeira metade do século XX, um dos nomes mais importantes da música do seu país. Amigo de Prokofiev; discípulo de Rinsky-Korsakov, Myaskovsky foi uma figura que percebeu atentamente as mudanças que ocorriam em seu Rússia. Ele foi um um compositor cuja trajetória combina intensidade emocional, tradição e resistência artística em meio às tempestades políticas do seu tempo.

Escreveu ao todo 27 sinfonias, quartetos de cordas, peças para piano, poemas sinfônicos e obras corais. Essa produção vasta traz uma marca, muitas vezes, introspectiva, alicerçada por um lirismo melancólico e uma notável profundidade psicológica. 

Se por um lado suas obras iniciais dialogam com a estética pós-romântica de Scriabin e Mahler, por outro, seu estilo amadureceu com influências da música popular russa, da polifonia clássica e de uma sensibilidade modernista moderada. A sinfonia n.º 6, por exemplo, escrita em memória de amigos mortos na Guerra Civil Russa, é uma das obras mais impactantes de seu catálogo, com coros, trechos fúnebres e apelos emocionais que transcendem ideologias.

Embora tenha sido um dos principais compositores da União Soviética - recebendo prêmios estatais e exercendo forte influência como professor no Conservatório de Moscou -, Myaskovsky nunca se dobrou completamente às imposições do realismo socialista. Diferente de Prokofiev ou Shostakovich, que flertaram com a sátira ou a ambiguidade, Myaskovsky preferiu um caminho mais discreto, mas igualmente firme: o de preservar a integridade artística num ambiente repressivo. 

Sua importância é incontestável. Sua presença na música do seu país representa um ponto de encontro entre o passado imperial e a modernidade. Como professor, sua contribuição foi enorme. Ele, por exemplo, influenciou músicos como Aram Khachaturian.  Myaskovsky deu um sentido trágico e melancólico, com uma pitada discreta de esperança, à sua música. Certamente, esse aspecto seja uma marca do tempo histórico em que viveu. Não deixe de ouvir. Uma boa apreciação!

Nikolay Myaskovsky (1881-1950) - 

(01) [N. Miaskovsky] Miaskovsky - Links, op 65 Largo pesante
(02) [N. Miaskovsky] Miaskovsky - Links, op 65 Allegretto grazioso
(03) [N. Miaskovsky] Miaskovsky - Links, op 65 Andante non tanto
(04) [N. Miaskovsky] Miaskovsky - Links, op 65 Larghetto e rubato
(05) [N. Miaskovsky] Miaskovsky - Links, op 65 Andante catabile
(06) [N. Miaskovsky] Miaskovsky - Links, op 65 Allegro non troppo
(07) [N. Miaskovsky] Miaskovsky - Divertissement, op 80 Allegro non troppo
(08) [N. Miaskovsky] Miaskovsky - Divertissement, op 80 Adagio
(09) [N. Miaskovsky] Miaskovsky - Divertissement, op 80 Presto
(10) [N. Miaskovsky] Miaskovsky - Alastor, C Min, Poeme d'apres Shelley, op 14 Lento, quasi andante

The Russian State Symphony Orchestra

Yevgeny Svetlanov, regente    

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sábado, 19 de julho de 2025

Giovanni Battista Pergolesi (1710-1736) - Stabat Mater in F Minor, P. 77

Certamente, a obra que aparece nesta postagem seja o Stabat Mater mais bonito já escrito. É uma expressão magnânima do barroco. Nela enxergamos a genialidade do seu autor, aos 26 anos de idade. A obra foi composta em 1736, poucos meses antes precoce do seu autor. Poucos minutos após começar a ouvir o Stabat Mater de Giovanni Battista Pergolesi, uma sensação difícil de nomear se instala. É como se o tempo desacelerasse e a dor ganhasse forma sonora - uma dor serena, lívida, resignada, quase bela. 

Baseada em um poema medieval do século XIII, o Stabat Mater descreve o sofrimento de Maria, mãe de Jesus, aos pés da cruz , enquanto testemunha o sofrimento, a humilhação e a crucificação do seu filho. Em latim, "Stabat mater dolorosa" ("Estava de pé a mãe dolorosa"), são os versos iniciais dessa reflexão dolorosa sobre o luto, a morte, a fé e a humanidade. Alguns compositores já haviam musicado o texto. Um exemplo é Josquin Desprez. Todavia, a versão de Pergolesi - como já falei - é uma das mais extraordinárias, seja pela grandiosidade melódica, seja pela simplicidade. 

Pergolesi subverte a ideia barroca dos coros grandiosos e pomposos. Ele optou pela simplicidade. Há apenas duas vozes: soprano e contralto, acompanhado por cordas e contínuo. Essa escolha cria uma atmosfera de intimismo, como se o ouvinte fosse também uma testemunha; dessa vez, dos sofrimentos de Maria e de seu Filho. Ou seja, a obra é de grande beleza; uma verdadeira obra-prima. Não deixe de ouvir. Uma boa apreciação! 

Giovanni Battista Pergolesi (1710-1736) - 

01 - Stabat Mater in F Minor, P. 77_ I. Stabat mater dolorosa
02 - Stabat Mater in F Minor, P. 77_ II. Cujus animam gementem
03 - Stabat Mater in F Minor, P. 77_ III. O quam tristis et afflicta
04 - Stabat Mater in F Minor, P. 77_ IV. Quae moerebat et dolebat
05 - Stabat Mater in F Minor, P. 77_ V. Quis est homo
06 - Stabat Mater in F Minor, P. 77_ VI. Vidit suum dulcem natum
07 - Stabat Mater in F Minor, P. 77_ VII. Eja mater fons amoris
08 - Stabat Mater in F Minor, P. 77_ VIII. Fac ut ardeat cor meum
09 - Stabat Mater in F Minor, P. 77_ IX. Sancta mater, istud agas
10 - Stabat Mater in F Minor, P. 77_ X. Fac ut portem Christi mortem
11 - Stabat Mater in F Minor, P. 77_ XI. Inflammatus et accensus
12 - Stabat Mater in F Minor, P. 77_ XII. Quando corpus morietur – Amen

Münchner Philharmoniker
Andrea Marcon, regente 

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sexta-feira, 18 de julho de 2025

Nikolay Myaskovsky (1881-1950) - Sinfonietta in B minor for string orchestra, Sinfonietta no. 2 in A minor for string orchestra e Lyric Concertino in G major for small orchestra in three movements - vol. 15

Vamos ao penúltimo disco deste material bastante revelador e grandioso. No presente disco, surgem três obras orquestrais do compositor russo. Essas obras se destacam pela delicadeza, pelo refinamento e pela inventividade.  A Sinfonietta em Si menor foi concebida em 1945. A obra equilibra introspecção e drama com um primeiro movimento marcado por tensão contida e lirismo sombrio, seguido por um andamento central de caráter dançante, quase pastoril, e um final onde a esperança se insinua, sem romper com a sobriedade geral da peça.

A Segunda Sinfonietta foi gravada em 1948. É uma das última obras do compositor. Nesse período, ele despertou os olhares de desconfiança do regime. A obra possui clareza e intensidade; é uma obra que possui um estilo mais condensado e direto. Já o Concertino foi escrito em 1934 e apresenta uma faceta mais leve e graciosa do compositor. O primeiro movimento é lírico e expansivo, o segundo apresenta um encanto quase íntimo, e o terceiro traz um brilho rítmico que remete à música de câmara com alma sinfônica. As três obras apresentam um Myaskovsky menos monumental, mas não menos profundo como lhe era de praxe. Não deixe de ouvir. Uma boa apreciação!

Nikolay Myaskovsky (1881-1950) - 

(01) Opus 32-2 Sinfonietta in B minor for string orchestra-Allegro pesante e serioso
(02) Theme avec variations
(03) Presto
(04) Opus  68 Sinfonietta no. 2 in A minor for string orchestra Allegro molto-Largo pesante
(05) Andantino graciozo
(06) Andante elevato
(07) Allegro con fuoco
(08) Opus  32-3 Lyric Concertino in G major for small orchestra in three movements Allegretto
(09) Andante monotono
(10) Allegro giocoso

The Russian State Symphony Orchestra
Yevgeny Svetlanov, regente   

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Johannes Brahms (1833-1897) - String Quintet No. 1 in F Major, Op. 88 e String Quintet No. 2 in G Major, Op. 111


Brahms é o um compositor da interioridade humana. Ao dizer isso não quero parecer banal. Poucos compositores na história da música foram tão humanos quanto Brahms. É o que vemos por aqui, pois o Quinteto em Fá maior, Op. 88, composto em 1882, e o Quinteto em Sol maior, Op. 111, de 1890, revelam não apenas a maturidade técnica de um compositor no auge de sua arte, mas também um profundo olhar introspectivo sobre o papel da música como expressão da interioridade humana. 

O Quinteto No. 1 era frequentemente descrito pelo compositor como uma de suas obras favoritas. Ela apresenta uma rara combinação de leveza pastoral e uma estrutura arrojada. Nota-se uma tensão subjacente, uma hesitação melancólica, que confere complexidade ao que poderia ser simplesmente agradável.  

Já o Quintento No. 2 é muitas vezes associado à ideia de despedida. Brahms chegou a considerar que esta seria sua última obra – intenção que, embora não mantida, impregna a música de uma intensidade dramática e emocional particular. Se o Op. 88 sugere o sossego de uma manhã clara, o Op. 111 é o crepúsculo carregado de significados. Não há nostalgia óbvia, mas uma aceitação resoluta do tempo que passa – como quem, ao invés de lamentar, se ergue para uma última dança.

As duas obras dialogam com espírito daquele que ouve e verbaliza questões universais: o conforto da ordem e o medo da dissolução; a estabilidade entre o controle e a emoção; as certezas da vida ante o inesperado e aquilo que foge ao controle. Não deixe de ouvir. Uma boa apreciação! 

Johannes Brahms (1833-1897) - 

String Quintet No. 1 in F Major, Op. 88
01. I. Allegro non troppo ma con brio
02. II. Grave ed appassionato - Allegretto vivace - Presto
03. III. Allegro energico: Presto

String Quintet No. 2 in G Major, Op. 111
04. I. Allegro non troppo, ma con brio
05. II. Adagio
06. III. Un poco allegretto
07. IV. Vivace ma non troppo presto 

Ludwig Quartet
Bruno Pasquier 

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quinta-feira, 17 de julho de 2025

Nikolay Myaskovsky (1881-1950) - Sinfonia nº 21 em fá sustenido menor, Op. 51, Sinfonietta in A major, Silence, symphonic poem after the poem by Edgar Allan Poe etc - vol. 14

 
Vamos a mais uma postagem com a música de Nikolay Myaskovsky. Como tenho falado ao longo das postagens - e essas começaram no final de abril -, ouvir Myaskovsky é mergulhar na Rússia da primeira metade do século XX. Neste disco, encontramos mais algumas obras do compositor.

A primeira delas é a Sinfonia No. 21, escrita no ano de 1940. Trata-se de uma obra breve; possui apenas um movimento. É uma das obras mais introspectivas do compositor. Dedicada à cidade de Chicago, que celebrava o centenário de Tchaikovsky naquele ano, a sinfonia condensa em pouco mais de dez minutos um universo emocional de rara densidade. É uma obra profundamente melancólica e de grande e inebriante simplicidade.

Outra obra significativa do disco é "Silêncio", um poema sinfônico baseado em um poema de Edgar Allan Poe. A obra mergulha e um universo sombrio e enigmático. Retrata uma entidade mágica, que personifica a figura da morte e do eterno. É notória a influência de Scriabin e do simbolismo russo. A obra foi escrita em 1909, ou seja, na juventude do compositor, mas revisitada em 1924. 

E a última obra do disco é o Op. 32, bem contrastante em relação às duas primeiras obras. A obra é menos sombria e procura evocar o classicismo vienense, todavia filtrada pelas lentes russas. A obra é do ano de 1934. Há uma leveza mozartiana, mas eivada pelo muro de contenção russo que lhe era próprio. Não deixe de ouvir. Uma boa apreciação! 

Nikolay Myaskovsky (1881-1950) - 

(01) Symphony no. 21 in F sharp minor in one movement
(02) Sinfonietta in A major-Allegro
(03) Andante quieto
(04) Allegro con fuocco
(05) Silence, symphonic poem after the poem by Edgar Allan Poe
(06) Serenada in E flat major for small symphony orchestra-Allegro marcato
(07) Andante
(08) Allegro vivo

The Russian State Symphony Orchestra

Yevgeny Svetlanov, regente     

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Sergei Rachmmaninov (1873-1943) - Variations On A Theme Of Chopin, Op 22, Variations On A Theme Of Corelli, Op 42, Melodie In E Major, Op 3 No 3 e tc

O russo Sergei Rachmaninov foi um dos grandes compositores de música para piano. Ele mesmo era considerado um extraordinário pianista. Com mãos enormes, dominava o piano e sabia construir sonoridades arrebatadoras. Rachmaninov gravou obras como sendo uma espécie de tributo aos grandes mestres do passado. É o que encontramos neste disco - obras que homenageiam Chopin, Corelli e Mendelssohn. 

As "Variations On A Theme Of Chopin, Op 22" foi composta entre os anos de 1902 e 1903 e se baseia no Prelúdio em dó menor, Op. 28, do compositor polonês. É uma obra menos conhecida do grande público, mas de enorme valor artístico. Sobressaem-se o virtuosismo técnico, a complexidade harmônica e o lirismo romântico. 

Por volta de 1931, ou seja, quase trinta anos depois, o compositor escreveu as famosas "Variations On A Theme Of Corelli, Op 42", já fora da Rússia. Com 20 variações e uma coda, essa obra reflete um Rachmaninov mais contido, quase clássico, mas ainda profundamente expressivo. Escrita em um momento de saudade e reflexão, é talvez sua obra para piano solo mais introspectiva, carregada de melancolia e sutileza.

Ainda surgem duas outras obras no disco as quais atestam as qualidades de Rach, um compositor cuja sensibilidade é inegável. Confirma-se isso nesse delicioso e introspectivo disco interpretado pelo excelente pianista Howard Shelley. Não deixe de ouvir. Uma boa apreciação!

Sergei Rachmmaninov (1873-1943) -

01 Variations On A Theme Of Chopin, Op 22
02 Variations On A Theme Of Corelli, Op 42
03 Melodie In E Major, Op 3 No 3
04 Scherzo From Mendelssohn's 'A Midsummer Night'S Dream'

Howard Shelley, piano 

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quarta-feira, 16 de julho de 2025

Jacques Ibert (1890-1962) - Complete Piano Music

Em meio ao número considerável de ótimos e extraordinários compositores franceses do século XX, o nome de Ibert surge com menos frequência. São mais destacados nomes como Ravel, Debussy, Poulenc, Milhaud. Uma pequena imersão em sua música já nos fornece uma amostra de como estamos diante de um compositor que sabia conciliar humor, lirismo, virtuosismo e leveza. 

Ibert não foi um inovador. Deve ser por isso que costuma ser subestimado, colocado em um plano de inferioridade. Sua música foge das abstrações modernas ou da languidez romântica própria do século XIX. Antes, suas composições possuem uma coloração própria, que sugere cores, formas e um clima em que o refinamento possui pitadas de irreverência e uma dicção quase cinematográfica. O compositor nos mostra como o leve, quando bem feito, pode ser complexo. 

A tradução de parte do encarte diz o seguinte: 

"Mais uma vez, Naxos desvenda um repertório desconhecido que encanta ao mesmo tempo em que provoca a pergunta: por que ninguém pensou nisso antes? A música para piano de Ibert lembra um pouco a de Poulenc, porém mais direta. Essas pequenas Imagens, Histórias, Encontros e diversas imagens musicais — cerca de 36 delas antes que este generoso programa termine — encantam, mesmo que não sejam muito profundas. O Romance oferece um lirismo schumanniano; 'Palácio Abandonado' e 'O Vento Sobre as Ruínas' têm uma atmosfera gótica assustadora; a brilhante 'Dança do Cocheiro' dispara do teclado e desaparece de vista; as peças infantis evocam inocência e admiração no estilo da Mamãe Ganso de Ravel". 

Não deixe de ouvir. Uma boa apreciação! 

Jacques Ibert (1890-1962) - 

01. Scherzetto (02:50)
02. Pièce romantique (05:54)
03. Toccata sur le nom d'Albert Roussel (01:00)
04. L'espiègle au village de Lilliput (01:00)
05. Française: 'Guitarre' pour le piano (02:37)
06. Le vent dans les ruines (02:58)
07. Petite suite - Prélude (01:46)
08. Petite suite - Ronde (00:42)
09. Petite suite - Le gai vigneron (00:49)
10. Petite suite - Berceuse aux étoiles (01:44)
11. Le cavalier Sans-Souci (00:58)
12. Petite suite - Parade (01:19)
13. Petite suite - La promenade en traîneau (00:58)
14. Petite suite - Romance (01:17)
15. Petite suite - Quadrille (00:36)
16. Petite suite - Sérénade sur l'eau (01:06)
17. Petite suite - La machine à coudre (00:34)
18. Petite suite - L'Adieu (02:09)
19. Petite suite - Les crocus (00:58)
20. Petite suite - Premier bal (00:45)
21. Petite suite - Danse du cocher (00:38)
22. Histoires - La meneuse de tortues d'or (03:41)
23. Histoires - Le petit âne blanc (02:03)
24. Histoires - Le vieux mendiant (03:03)
25. Histoires - A giddy girl (01:24)
26. Histoires - Dans la maison triste (01:51)
27. Histoires - Le palais abandonné (02:07)
28. Histoires - Bajo la mesa (02:03)
29. Histoires - La cage de cristal (01:26)
30. Histoires - La marchande d'eau fraîche (02:09)
31. Histoires - Le cortège de Balkis (02:00)
32. Les rencontres - Les bouquetières (03:08)
33. Les rencontres - Les créoles (04:04)
34. Les rencontres - Les mignardes (03:01)
35. Les rencontres - Les bergères (03:39)
36. Les rencontres - Les bavardes (02:18)

Hae-won Chang, piano 

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Alessandro Scarlatti (1660-1725) - 6 Sinfonie di Concerto Grosso

 

Em meio ao esplendor do barroco italiano, entre catedrais ricamente ornamentadas e cortes aristocráticas em busca de sofisticação artística, surgiu um nome que moldaria o curso da música ocidental: Alessandro Scarlatti. Embora muitas vezes eclipsado por nomes como Bach ou Händel, é impossível falar da ópera barroca - e da própria arte do contraponto vocal - sem reconhecer a influência colossal desse compositor napolitano.

Nascido em 1660, Scarlatti viveu numa época de intensas transformações musicais. Foi ele quem, com notável sensibilidade, ajudou a estabelecer os alicerces da ópera séria italiana, gênero que viria a dominar os palcos europeus pelos séculos seguintes. Com mais de 100 óperas compostas, seu talento narrativo aliava emoção, dramaturgia e técnica refinada.

Mas reduzir Scarlatti à ópera seria injusto. Suas cantatas de câmara, muitas vezes compostas para voz e poucos instrumentos, revelam um lirismo íntimo e surpreendentemente moderno. São obras que desafiam o ouvinte, exigindo atenção aos detalhes, à harmonia engenhosa e à expressividade vocal quase teatral. É nesse repertório, talvez mais do que nas grandiosas óperas, que vemos um compositor à frente de seu tempo. É o que podemos, por exemplo, encontrar neste delicioso disco. 

Mais do que um compositor histórico, Scarlatti é uma chave para compreendermos a evolução da sensibilidade musical europeia. Sua sensibilidade estética é algo que indica sua importância. Não deixe de ouvir. Uma boa apreciação!

Alessandro Scarlatti (1660-1725) - 

01 - Sinfonia No. 7 g-Moll 
02 - Sinfonia No. 8 G-Dur 
03 - Sinfonia No. 9 g-Moll 
04 - Sinfonia No.10 a-Moll 
05 - Sinfonia No.11 C-Dur 
06 - Sinfonia No.12 c-Moll 
07 - Concerto grosso No.1 f-Moll 
08 - Concerto grosso  No.2 c-Moll
09 - Concerto grosso No.3 F-Dur

I Musici

William Bennett, flauta 

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terça-feira, 15 de julho de 2025

Nikolay Myaskovsky (1881-1950) - Sinfonia nº 6 em Mi bemol menor, Op. 23 e Abertura Patética em Dó menor, Op. 4 - vol. 13

Vamos a mais uma postagem com as sinfonias de Nikolay Myaskovsky. Após esta postagem, restarão ainda três discos. Cada sinfonia do compositor russo aponta para a história do seu país. Por exemplo, a Sinfonia No. 6 foi composta entre os anos de 1921 e 1923, logo depois da Guerra Civil Russa. Trata-se de um registro ambicioso. Escrita em quatro movimentos, ela carrega uma força emocional comparável às grandes sinfonias de Mahler e Shostakovich, mas com uma voz própria, marcada pelo conflito entre a resignação lírica e a revolta contida.

A sinfonia começa com uma atmosfera sombria e carregada - não por acaso: Myaskovsky havia servido como oficial de engenharia no front durante a Primeira Guerra Mundial e testemunhou o colapso do mundo czarista. O primeiro movimento traz ecos dessa experiência em frases dissonantes, quase claustrofóbicas, que alternam momentos de fúria com passagens de beleza melancólica. O segundo movimento, um Allegro em forma de scherzo, introduz uma energia inquieta, como se a memória dos horrores ainda pulsasse sob a superfície.

Mas é no terceiro movimento - o mais lírico e introspectivo - que a sinfonia atinge sua maior carga emocional. Aqui, Myaskovsky parece escrever um lamento coletivo, uma elegia para os mortos da guerra e da Revolução de Outubro. Já o quarto movimento surpreende: começa com um coro (opcional, mas marcante) entoando o Dies irae, sinalizando uma intenção quase litúrgica. A música, então, se encerra de maneira ambígua: ao mesmo tempo resignada e transcendental, como se a Rússia estivesse sendo sepultada - ou talvez renascendo, sob outra forma. 

A última obra do disco é a melancólica, porém esperançosa Abertura Patética.  Composta pouco antes, em 1912, a obra é uma peça de juventude, mas já contém muitos dos traços que marcariam o estilo de Myaskovsky: a preferência por tonalidades escuras, o uso de contrastes dramáticos e uma orquestração austera, mas eficaz. É uma obra breve e intensa, que revela uma mente profundamente romântica, influenciada tanto por Tchaikovsky quanto por Scriabin.

Ao contrário do que o título possa sugerir, não se trata de um lamento passivo. A "patética" aqui é dramática, combativa. Há uma tensão constante entre o impulso trágico e a esperança, como se o compositor antevisse os tempos turbulentos que viriam. Se a Abertura Patética é o prólogo emocional da vida artística de Myaskovsky, a Sinfonia nº 6 é o grande capítulo em que ele confronta o destino de sua geração.

Não deixe de ouvir. Uma boa apreciação! 

Nikolay Myaskovsky (1881-1950) - 

(01) Symphony no. 6 in E flat minor with chorus ad libitum-Poco Largamente . Allegro feroce
(02) Presto tenebroso
(03) Andante appassionato
(04) Molto vivace
(05) Pathetic Overture in C minor

The Russian State Symphony Orchestra
Yevgeny Svetlanov, regente    

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Astor Piazzolla (1921-1992) - Works for Flute & Guitar

Do encante:

"A combinação de flauta e violão era uma característica das primeiras gravações de tango – instrumentos centrais tanto para o gênero quanto para a música de Astor Piazzolla. A obra-prima do compositor, Histoire du Tango, mapeia a evolução da forma desde seu surgimento nos bairros de Buenos Aires até sua eventual assimilação por compositores clássicos. Os Seis Estudos Tanguísticos para flauta solo são a única obra de Piazzolla para um instrumento melódico sem acompanhamento. O restante do programa apresenta uma sequência de arranjos de Vicente Coves e Kazunori Seo e inclui algumas das composições mais famosas e belas de Piazzolla, além de preservar uma recitação historicamente importante e inédita de Horacio Ferrer". 

Não deixe de ouvir. Uma boa apreciação! 

01. Histoire du tango: I. Bordel 1900 (03:53)
02. Histoire du tango: II. Café 1930 (08:15)
03. Histoire du tango: III. Nightclub 1960 (06:21)
04. Histoire du tango: IV. Concert d'aujourd'hui (04:50)
05. 6 Études tanguistiques: No. 1, Décidé (02:47)
06. 6 Études tanguistiques: No. 2, Anxieux et rubato (08:34)
07. 6 Études tanguistiques: No. 3, Molto marcato e energico (03:36)
08. 6 Études tanguistiques: No. 4, Lento. Meditativo (04:21)
09. 6 Études tanguistiques: No. 5, — (01:51)
10. 6 Études tanguistiques: No. 6, Avec anxiété (03:57)
11. Suite del ángel (Excerpts Arr. V. Coves for Guitar): II. Milonga del ángel (05:55)
12. Suite del ángel (Excerpts Arr. V. Coves for Guitar): III. La muerte del ángel (04:36)
13. Chiquilín de Bachín (Arr. V. Coves for Guitar) (02:57)
14. VLibertango (Arr. V. Coves for Guitar) (01:50)
15. Ave Maria "Tanti anni prima" (Arr. V. Coves & K. Seo for Flute & Guitar) (05:33)
16. Balada para mi muerte (Arr. V. Coves for Narrator & Guitar) (04:37)

Kazunori Seo, flauta
Vicente Coves, guitarra

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segunda-feira, 14 de julho de 2025

Nikolay Myaskovsky (1881-1950) - Sinfonia nº 2 em dó menor, Op. 11, Sinfonia nº 13 em si bemol menor, op. 36 e Slav Rhapsody in D minor, op. 71 - vol. 12

Voltemos a Nikolay Myaskovsky para mais uma audição. Poucos compositores retrataram com tanta clareza os dilemas espirituais, estéticos e políticos do século XX como ele. Dono de uma voz sinfônica introspectiva e profundamente humana, Myaskovsky compôs 27 sinfonias, acompanhando musicalmente o colapso do Império Russo, as convulsões da Revolução e o peso da era soviética.  Neste disco, são encontradas três monumentais obras.

 A primeira delas é a Sinfonia No. 2, escrita entre os anos de 1911 e 1912. Observa-se a influência poderosa de Mahler e Scriabin. Um romantismo melancólico e quase sombrio aponta para a linguagem inescapável de Myaskovsky - o impulso trágico e a busca por uma evolação transcendente. Já a Décima Terceira foi escrita em 1933. Trata-se de um trabalho escrito vinte anos após a Segunda. Myaskovsky já não era o jovem inquieto, mas o “decano da música soviética”, respeitado - e vigiado - pelas autoridades. A Décima Terceira possui apenas dois movimentos e foge ao entusiasmo. Não há heroísmo grandiloquente. É uma obra de introspecção madura, onde os conflitos não são mais gritos, mas murmúrios. Pode-se ouvir nela a voz de alguém que aprendeu a sobreviver dizendo o mínimo — e ainda assim sendo sincero.

E a terceira obra o disco é a "Rapsódia Eslava", uma obra na qual podemos observar um Myaskovsky maduro. A rapsódia é colorida, fluente, com momentos de exuberância orquestral que evocam danças e canções ancestrais, mas sempre atravessadas por uma leve melancolia. Não deixe de ouvir. Uma boa apreciação! 

Nikolay Myaskovsky (1881-1950) - 

(01) [Svetlanov - Russia SSO] Symphony No. 2(1910) in cis-moll, op.11- Allegro
(02) [Svetlanov - Russia SSO] Symphony No. 2(1910) in cis-moll, op.11- Molto sostenuto.  Allegro con fuoco
(03) [Svetlanov - Russia SSO] Symphony No. 13(1933) in b-moll, op.36- Andante Moderato
(04) [Svetlanov - Russia SSO] Slav rhapsody (1947) in d-moll, op.71- Adagio

The Russian State Symphony Orchestra

Yevgeny Svetlanov, regente   

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Anton Bruckner (1824-1896) - Symphony No. 9 in D minor, WAB 109

Sou suspeito para falar de Bruckner. Confesso minha paixão pelos seus trabalhos sinfônicos - principalmente, a partir da Terceira Sinfonia. Nesta maravilhosa gravação sob a regência de Ricardo Muti, encontramos a emblemática Nona Sinfonia. Quando o compositor começou a escrever a sua Nona - repleto de receios, já que era um homem supersticioso -, era o ano de 1891 (importante observar que ele morreria cinco anos depois), Bruckner era um homem idoso e reconhecido. A sua luta de uma vida inteira pelo reconhecimento público, finalmente veio com a Sétima Sinfonia. Ele havia se tornado um senhor venerável e respeitável; um professor admirado pelos alunos. Um homem de hábitos frugais e simples. 

A existência de Bruckner foi voltada para o Deus cristão. Ele era um homem absolutamente temente a Deus. A dedicatória gravada na partitura atesta isso: "Ao bom Deus". Deus, de fato, fora generoso para com ele. Bruckner elevou ao máximo a compreensão daquilo que é uma sinfonia. Elas são verdadeiros tratados. São expressões profundas de adoração. Falam sobre o sublime; escancaram o infinito. Em Bruckner, a eternidade se aproxima dos homens. Bruckner é um "Bach" sinfônico. 

A Nona ficou inacabada, mesmo o compositor tendo ficado cinco anos debruçado sobre ela. Herdamos apenas três movimentos. Após o belo e fulminante "Adagio" não temos o "Finale". Restou apenas o silêncio. O silêncio torna-se uma força evocativa, poética, transcendente; o silêncio é a voz da própria eternidade. Nada mais simbólico do que isso. 

Não deixe de ouvir. Uma boa apreciação! 

Anton Bruckner (1824-1896) - 

Symphony No. 9 in D minor, WAB 109
01. I. Feierlich, misterioso (26:29)
02. II. Scherzo. Bewegt, lebhaft (10:52)
03. III. Adagio. Langsam, feierlich (24:59)

Chicago Symphony Orchestra
Riccardo Muti, regente

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domingo, 13 de julho de 2025

Johann Sebastian Bach (1685-1750) - Matthäus-Passion, BWV 244

Em um dia de 1727, numa formosa igreja de Leipzig, uma congregação se reuniu para ouvir o que parecia ser mais uma obra religiosa para a Páscoa. Todavia, o que se ouviu tornou-se imortal. Se fosse outro compositor, a obra certamente seria escutada, provocaria o seu efeito, mas, logo, seria esquecida. Não foi o que aconteceu aquele dia. Johann Sebastian Bach apresentou para o Universo uma das obras mais belas e poderosas da história: a colossal, intensa e profundamente humana Paixão segundo São Mateus. A Paixão é uma obra que transcende o religioso e realiza um mergulho vertiginoso na dor, no amor e na condição humana.

Tudo é grandioso: desde a estrutura da obra ao tempo de execução (quase três horas de duração). O tema também é imenso, caudaloso. Bach emprega no texto do evangelista Mateus uma dimensão teatral, íntima, arrebatadora. Ele transforma palavras bíblicas em música viva. Não apenas ilustra o sofrimento de Jesus, mas nos convida a participar dele, como ouvintes e como seres humanos. Não é preciso ser cristão para ser tocado. Há algo de profundamente universal ali. Quem já sofreu por amor entende o lamento da ária Erbarme dich (uma das músicas mais belas já escritas!) - talvez a mais comovente de toda a obra. Quem já se sentiu traído percebe na música que acompanha Judas o peso da culpa. Quem já velou um ente querido se reconhece no silêncio sepulcral do coro final.

Bach era um homem de fé, mas sabia como ninguém falar dos sentimentos humanos. Ele olha para o relato de Mateus acerca do sofrimento de Cristo e enxerga ali algo que é próprio do ser humano: o sofrimento acomete a todos. A música de Bach opera uma revolução profunda dentro de nós. Impossível ouvir e não se comover; não se deixar conduzir por essa viagem pelo reino do indizível. Bach abre uma janela para o lado de dentro de nossa interioridade. Não deixe de ouvir. Uma boa apreciação!

Johann Sebastian Bach (1685-1750) - 

DISCO 01

01. 01 Chor - Kommt, ihr Töchter helft mir klagen
02. 02 Rezitativ - Da Jesus diese Rede vollendet hatte
03. 03 Choral - Herrliebster Jesu was hast du verbrochen
04. 04 Rezitativ - Da versammelten sich die Hohepriester
05. 05 Chor - Ja nicht auf das Fest

(...)

32. 30 Rezitativ - Und er kam zu seinen Jüngern
33. 31 Choral - Was mein Gott will das g'scheh' allzeit
34. 32 Rezitativ - Und er kam und fand sie aber schlafend
35. 33a Duo & Chor - So ist mein Jesus nun gefangen
36. 33b Chor - Sind Blitze sind Donner in Wolken verschwunden

DISCO 02

01. 34 Und siehe, einer aus denen, die mit Jesus waren, reckte die Hand aus
02. 35 O Mensch, bewein' dein' Sunde gross
03. 36 Ach, nun ist mein Jesus hin - Wo ist denn dein Freund hingegangen
04. 37 Die aber Jesum gegriffen hatten
05. 38 Mir hat die Welt truglich gericht't

(...)

37. 61 Können Tränen meiner Wangen nichts erlangen
38. 62 Da nahmen die Kriegsknechte
39. 62b Gegrussest seist du, Judenkonig!
40. 62c Und speieten ihn an
41. 63 O Haupt voll Blut und Wunden

DISCO 03


01. 64 Und da sie ihn verspottet hatten
02. 65 Ja! freilich will in uns das Fleisch und Blut zum Kreuz gezwungen sein
03. 66 Komm, süßes Kreuz, so will ich sagen
04. 67 Und da sie an die Statte kamen
05. 67b Der du den Tempel Gottes zerbrichst

(...)

22. 76 Und Joseph nahm den Lein
23. 76b Herr, wir haben gedacht
24. 76c Pilatus sprach zu ihnen
25. 77 Nun ist der Herr zur Ruh' gebracht
26. 78 Wir setzen uns mit Tränen nieder

Constortium Musicum
Ein Knabenchor
Süddeutscher Madragalchor
Instrumentalsolisten

Wolfgang Gönnenwein, regente 

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sábado, 12 de julho de 2025

Dmtri Shostakovich (1906-1975) - Piano Quintet in G Minor, Op. 57 e String Quartet No. 3 in F Major, Op. 73

A música de Shostakovich foi concebida sob a terrível tensão de certas circunstâncias históricas.  O Quinteto com piano em sol menor, Op. 57 e o Quarteto de cordas nº 3 em fá maior, Op. 73 oferecem janelas poderosas para a alma de um artista que compôs sob a sombra do regime stalinista. Escrito em 1940, o Quinteto nasceu em um momento de relativa tranquilidade na União Soviética. Ele já experimentara os rigores do regime em anos anteriores. Sua carreira parecia voltar a florescer. A obra, por exemplo, estreou no ano de 1941, com o próprio Shostakovich ao piano. Em 1941, a obra alcançou o prestigiado Prêmio Stalin. 

Já o Quarteto de cordas No. 3 é uma obra repleta de um sabor amargo. Surgiu pouco após o fim da Segunda Guerra Mundial, um conflito em que milhões de soviéticos perderam a vida. Shostakovich inicialmente intitulou seus cinco movimentos com nomes programáticos, como “A guerra se aproxima” ou “A memória dos mortos”. Mais tarde, retirou os títulos - talvez para evitar problemas com a censura. A música, no entanto, fala por si. Alternando entre o sarcasmo e a tragédia, o quarteto é uma espécie de elegia fragmentada, onde ecos de marcha militar se chocam com passagens líricas e desoladas. É impossível não ouvir, por trás das notas, o lamento de um povo - e talvez do próprio compositor - diante das perdas e das contradições da vitória. 

Shostakovich apesar da censura e da respiração suspensa, sabia como ninguém desferir golpes irônicos e de galhofaria no regime autoritário que vigorava em seu país. Embora, oficialmente, não dissesse nada contra o regime, a sua música dizia muita coisa. Ao ouvi-lo nos dias de hoje, nota-se o quanto era ousado, criativo, audaz, destemido. 

 Não deixe de ouvir. Uma boa apreciação! 

Dmtri Shostakovich (1906-1975) - 

Piano Quintet in G Minor, Op. 57

01. I. Prelude (Lento) 04:46
02. II. Fugue (Adagio) 11:34
03. III. Scherzo (Allegretto) 03:37
04. IV. Intermezzo (Lento) 07:02
05. V. Finale (Allegretto) 07:40

String Quartet No. 3 in F Major, Op. 73
06. I. Allegretto 07:27
07. II. Moderato con moto 05:37
08. III. Allegro non troppo 04:12
09. IV. Adagio 06:00
10. V. Moderato 11:12

Belcea Quartet

Corina Belcea, violino I
Axel Schacher, violino II
Krzysztof Chorzelski, viola
Antoine Lederlin, violoncelo
Piotr Anderszewski, piano 

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