terça-feira, 15 de julho de 2025

Nikolay Myaskovsky (1881-1950) - Sinfonia nº 6 em Mi bemol menor, Op. 23 e Abertura Patética em Dó menor, Op. 4 - vol. 13

Vamos a mais uma postagem com as sinfonias de Nikolay Myaskovsky. Após esta postagem, restarão ainda três discos. Cada sinfonia do compositor russo aponta para a história do seu país. Por exemplo, a Sinfonia No. 6 foi composta entre os anos de 1921 e 1923, logo depois da Guerra Civil Russa. Trata-se de um registro ambicioso. Escrita em quatro movimentos, ela carrega uma força emocional comparável às grandes sinfonias de Mahler e Shostakovich, mas com uma voz própria, marcada pelo conflito entre a resignação lírica e a revolta contida.

A sinfonia começa com uma atmosfera sombria e carregada - não por acaso: Myaskovsky havia servido como oficial de engenharia no front durante a Primeira Guerra Mundial e testemunhou o colapso do mundo czarista. O primeiro movimento traz ecos dessa experiência em frases dissonantes, quase claustrofóbicas, que alternam momentos de fúria com passagens de beleza melancólica. O segundo movimento, um Allegro em forma de scherzo, introduz uma energia inquieta, como se a memória dos horrores ainda pulsasse sob a superfície.

Mas é no terceiro movimento - o mais lírico e introspectivo - que a sinfonia atinge sua maior carga emocional. Aqui, Myaskovsky parece escrever um lamento coletivo, uma elegia para os mortos da guerra e da Revolução de Outubro. Já o quarto movimento surpreende: começa com um coro (opcional, mas marcante) entoando o Dies irae, sinalizando uma intenção quase litúrgica. A música, então, se encerra de maneira ambígua: ao mesmo tempo resignada e transcendental, como se a Rússia estivesse sendo sepultada - ou talvez renascendo, sob outra forma. 

A última obra do disco é a melancólica, porém esperançosa Abertura Patética.  Composta pouco antes, em 1912, a obra é uma peça de juventude, mas já contém muitos dos traços que marcariam o estilo de Myaskovsky: a preferência por tonalidades escuras, o uso de contrastes dramáticos e uma orquestração austera, mas eficaz. É uma obra breve e intensa, que revela uma mente profundamente romântica, influenciada tanto por Tchaikovsky quanto por Scriabin.

Ao contrário do que o título possa sugerir, não se trata de um lamento passivo. A "patética" aqui é dramática, combativa. Há uma tensão constante entre o impulso trágico e a esperança, como se o compositor antevisse os tempos turbulentos que viriam. Se a Abertura Patética é o prólogo emocional da vida artística de Myaskovsky, a Sinfonia nº 6 é o grande capítulo em que ele confronta o destino de sua geração.

Não deixe de ouvir. Uma boa apreciação! 

Nikolay Myaskovsky (1881-1950) - 

(01) Symphony no. 6 in E flat minor with chorus ad libitum-Poco Largamente . Allegro feroce
(02) Presto tenebroso
(03) Andante appassionato
(04) Molto vivace
(05) Pathetic Overture in C minor

The Russian State Symphony Orchestra
Yevgeny Svetlanov, regente    

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